Dificuldades de implantação da atenção diferenciada à saúde entre os kaiowá e guarani
Challenges to the implementation of differentiated healthcare approaches in kaiowá and guarani indigenous communities in brazil

Rev. saúde pública Mato Grosso Sul; 5 (1-2), 2013
Ano de publicação: 2013

INTRODUÇÃO:

A Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas define as Uniderp diretrizes para orientar as ações de atenção diferenciada à saúde. Este conjunto de diretrizes reppicoli@gmail.com representa um avanço nas discussões sobre as especificidades culturais e epidemiológicas dos povos indígenas e implica em novas formas de articulação da biomedicina com o sistema cultural de saúde deste povo.

Objetivo:

Discutir a possibilidade de desenvolver uma atenção diferenciada à saúde entre os Kaiowá e Guarani da Terra Indígena de Caarapó.

MÉTODO:

A metodologia adotada foi a contribuição etnográfica por meio da observação participante e registro em cadet-no de campo.

RESULTADOS:

As observações levantaram questões relevantes sobre as dificuldades no desenvolvimento de urna atenção diferenciada à saúde, que envolvem os aspectos linguísticos e políticos e o reducionismo da biomedicina. Para os aspectos linguísticos, a utilização da Língua Portuguesa pelo profissional de saúde e da Língua Guarani pelo indígena reduzia as possibilidades de uma comunicação. Quanto aos aspectos políticos, observou-se que as dificuldades estão correlacionadas ao caráter genérico das diretrizes preconizadas na Política Nacional de Atenção à Saúde Indígena que, por sua vez, fragilizavam a sua aplicação pelos profissionais de saúde. Outra dificuldade refere-se ao modo como o profissional de saúde valorizava estritamente os aspectos biológicos e curativos da doença. Observou-se que, na comunidade, o agente indígena de saúde realizava uma atenção diferenciada à saúde ao apropriar-se da biomedicina e reelaborá-la segundo a sua realidade simbólica. Já, nos serviços de saúde, a aplicação desta prática por ele era dificultada pela relação desigual entre a biomedicina e seu sistema cultural de saúde.

CONCLUSÃO:

A realização de uma atenção diferenciada à saúde esbarrava no reduzido reconhecimento pelos profissionais de saúde das especificidades culturais desse povo e da clareza do agente indígena de saúde de sua importância no desenvolvimento de uma atenção diferenciada à saúde.

INTRODUCTION:

In Brazil, the National Healthcare Policy for Indigenous Peoples establishes guidelines for implementing differentiated healthcare actions. These guidelines represent a breakthrough in the discussions on the cultural and epidemiological specificities of indigenous peoples, as it implies new articulations between biomedicine and the culturally rooted health system of these populations.

Objective:

To discuss the potential for developing differentiated healthcare approaches for Kaiowá and Guarani communities settled in the Caarapó Indigenous Land in Mato Grosso do Sul state, Brazil.

METHOD:

Under an ethnographic focus, data were collected using participant observation techniques and field notes.

RESULTS:

The observations raised relevant questions on the challenges to developing a differentiated healthcare approach, particularly in issues related to linguistic and political aspects and to the reductionism that marks the biomedical view. With regard to linguistic aspects, the use of Portuguese by healthcare professionals and Guarani by the communities limits the extent of communication. In political terms, difficulties relate to the overly generic scope of the guidelines — a feature that has hindered the implementation of the National Healthcare Policy for Indigenous Peoples by healthcare professionals. A further difficulty stems from the value assigned by healthcare professionals to strictly biological and curative aspects of disease. The indigenous healthcare agents were found to have developed a differentiated healthcare approach by appropriating biomedical knowledge and re-elaborating it according to their own symbolic reality. In the setting of healthcare services, by contrast, the implementation of this practice has been hampered by the unequal relationship between biomedicine and the culturally rooted indigenous health system.

CONCLUSION:

The feasibility of implementing differentiated healthcare approaches has been hindered not only by the limited recognition by healthcare professionals of the cultural specificities of indigenous peoples, but also by the poor awareness held by indigenous healthcare agents about the importance of using these specificities as a basis for developing healthcare approaches suited to the needs of these communities.

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