Rev. Soc. Cardiol. Estado de Säo Paulo; 31 (supl. 2B), 2021
Ano de publicação: 2021
INTRODUÇÃO:
As biopróteses possuem durabilidade aproximada de 12 a 20 anos. Neste período, complicações relacionadas à degeneração protética podem exigir novas intervenções. Mas o elevado risco de uma reoperação, principalmente se o paciente estiver clinicamente descompensado, tornam a cirurgia convencional muito arriscada ou mesmo proibitiva. Neste cenário, o implante valvar dentro da bioprótese degenerada (valve in valve) se mostrou como opção alternativa e viável. Relatamos um caso de correção de insuficiência aórtica grave por falência estrutural de bioprótese através de valve in valve (ViV) com sucesso em paciente gravemente descompensado. DESCRIÇÃO DO CASO:
Homem, 66 anos, hipertenso, implante de bioprótese aórtica e plastia mitral em 2011, devido dupla lesão aórtica e mitral, sem seguimento clínico. Procurou o pronto socorro por dispnéia aos mínimos esforços e anasarca há uma semana. Admitido em IC perfil B. Após tratamento com diuréticos, o ecocardiograma transtorácico (ecoTT) revelou: aumento atrial esquerdo importante (volume indexado de 96 mL/m²); fração de ejeção do VE (FEVE) de 45% - Simpson; bioprótese aórtica apresentava folhetos com hipermobilidade e prolapso, sugestivos de fratura, com refluxo importante, gradiente sistólico (GS) máximo de 69 mmHg, GS médio de 36mmHg e área valvar (AV) de 1,3 cm2. Valva mitral com aspecto de plastia exibindo refluxo de grau importante. Internado para programação cirúrgica a princípio, mas após discussão com Heart Team, e considerando STS de 27 %, indicada a realização de “Valve-in-valve”. A angiotomografia com parâmetros anatômicos adequados para o tratamento percutâneo. Procedimento realizado com técnica simplificada e otimizada (“minimalista”), sob sedação. Gradientes pré implante de prótese:
VE 120 x 15 mmHg e Aorta 100 x 30 mmHg. Implante de bioprótese Myval 20 e pós dilatação com cateter balão ATLAS GOLD 22 x 40mm com sucesso conforme parâmetros do ecoTT. Após implante valvar, novos gradientes foram adquiridos: VE 130 x 15 mmHg e Aorta 128 x 70 mmHg. Paciente evoluiu com melhora clínica significativa. EcoTT do 1o dia pós procedimento revelou refluxo mitral de grau discreto a moderado e ausência de refluxo aórtico, gradiente GS máximo 21 mmHg, GS médio 11 mmHg, AV 1,4 cm2. O paciente demostrou melhora rápida de sua classe funcional (CF I). CONCLUSÃO:
No caso descrito, a realização de “Valve-in-valve” após complicação estrutural de bioprótese constituiu tratamento seguro, efetivo e alternativa à intervenção cirúrgica convencional.