Rev. Soc. Cardiol. Estado de Säo Paulo; 31 (supl. 2B), 2021
Ano de publicação: 2021
INTRODUÇÃO:
O diagnóstico diferencial entre Cardiomiopatia Hipertrófica (CMH) e outras condições que evoluem com hipertrofia ventricular frequentemente é desafiador. A miocardite geralmente não é listada como uma dessas condições porque o aumento da espessura ventricular que nela ocorre costuma ser transitório e mais presente nas formas graves de apresentação clínica. Descrevemos interessante caso de miocardite, cujo edema simulava hipertrofia miocárdica, levando a diagnósticoinicial de CMH. RELATO DE CASO:
Masculino, 35 anos, tabagista, procurou pronto-socorro com queixa de dor torácica típica de Síndrome Coronariana Aguda (SCA), sem história de pródromos virais associados. Exame físico:
sem alterações. Eletrocardiograma (ECG) com inversão de onda T em toda parede anterior. Troponina elevada. Aventadas hipóteses diagnósticas de miocardite e Síndrome Coronariana Aguda sem Supradesnivelamentodo Segmento ST (SCASSST). Submetido à estratificação invasiva com cineangiocoronariografia, com achado de coronárias normais. A Ressonância Nuclear Magnética (RNM) cardíaca mostrou: hipertrofia medioapical com maior espessura de 14mm e edema miocárdio nas sequências ponderadas de T2 em segmentos antero-lateral, anterior, anterosseptal e inferoseptal médios e segmentos anterior e septal apicais. Nestas mesmas paredes, observado realce tardio mesocárdico. Feito diagnóstico de CMH na ocasião e orientado o uso de betabloqueador, restrição de atividade física intensa e pesquisa de familiares. Dois anos após, em atendimento ambulatorial, seu ECG era normal, diferente do prévio, levando à indicação de nova RNM, que evidenciou: ausência de sinais sugestivos de hipertrofia miocárdica; presença de fibrose mesocárdica acometendo os segmentos inferior e inferolateral basais; ausência de edema. Paciente mantido em seguimento ambulatorial, assintomático nas últimas avaliações. CONCLUSÃO:
O presente caso ressalta a necessidade de se incluir Miocardite como possibilidade diagnóstica quando se está diante de uma cardiomiopatia com hipertrofia ventricular. Além disso, é ressaltada a importância da reavaliação diagnóstica na evolução destes pacientes.