Arq. bras. cardiol; 117 (4 supl.1), 2021
Ano de publicação: 2021
INTRODUÇÃO:
A persistência do forame oval (FOP) ocorre em 10-15% na população, na maioria sem repercussão hemodinâmica. O objetivo dessa apresentação é relatar o caso de uma paciente com quadro típico de tromboembolismo pulmonar (TEP) que foi aventada a possibilidade de FOP após achado neurológico de alteração visual de etiologia central. DESCRIÇÃO DO CASO:
Paciente, feminina, 27 anos, sem comorbidades, admitida com quadro de dor em panturrilha direita há 7 dias e dispneia há 5 dias, com piora súbita há 1 dia. Admitida estável hemodinamicamente com taquicardia sinusal de 110bpm. Confirmada hipótese de TEP com angiotomografia de tórax que evidenciou TEP bilateral segmentar e subsegmentar. Resultado de peptídeo natriurético atrial foi de 3187pg/ml e troponina positiva. O ecocardiograma evidenciou aumento do diâmetro do ventrículo direito (VD) com disfunção contrátil. Apesar de alteração do ecocardiograma e dos biomarcadores, paciente manteve-se estável hemodinamicamente, sendo considerada de risco intermediário a alto. Iniciado heparina em dose plena. Durante internação, evoluiu com quadrantopsia superior direita, sendo avaliada pela neurologia, com solicitação de ressonância magnética de crânio, com evidência de isquemia aguda na região occipital e temporal posterior à direita. Foi levantado a hipótese de embolia paradoxal, sendo solicitado ecocardiograma com microbolhas, que evidenciou FOP e os achados da admissão (disfunção de ventrículo direito) já não mais se observavam. Paciente evoluiu bem, recebeu alta hospitalar, em uso de anticoagulação e com seguimento ambulatorial. CONCLUSÃO:
Paciente apresentava idade atípica para acidente vascular cerebral e, quando associado ao TEP, foi aventado hipótese de embolia paradoxal que foi confirmado pela existência de FOP no ecocardiograma com microbolhas. A presença concomitante de FOP e TEP está associada a risco aumentado de embolias paradoxais sistêmicas, visto que a hipertensão arterial pulmonar provocado pelo TEP, ao aumentar a pressão atrial direita, favorece o shunt interatrial direito-esquerdo. Portanto, é de suma importância o conhecimento por parte de médicos não especialistas a existência desse fenômeno uma vez que a terapêutica adequada instituída interfere na sobrevida, prognóstico e qualidade de vida.