Arq. bras. cardiol; 117 (5 supl. 1), 2021
Ano de publicação: 2021
INTRODUÇÃO:
Nos últimos anos, o implante por cateter de prótese aórtica (TAVI) revelouse como um tratamento seguro e eficaz da estenose aórtica (EAo), sendo aplicado a pacientes sintomáticos e de amplo espectro de risco cirúrgico. Sua aplicabilidade no resgate de pacientes com insuficiência cardíaca valvar descompensada não é bem estabelecido. Relatamos um caso de choque cardiogênico tratado com TAVI com sucesso. DESCRIÇÃO DO CASO:
Homem, 76 anos, hipertenso, ex-tabagista, previamente ativo, com quadro de dispneia progressiva a moderados esforços há 30 dias. Procurou o pronto socorro por progressão dos sintomas, sendo admitido em insuficiência cardíaca perfil B e eletrocardiograma revelando flutter atrial. Após tratamento com diuréticos e controle de frequência cardíaca, o ecocardiograma (eco) revelou: aumento atrial esquerdo importante (volume indexado de 52 mL/m²) e moderado de átrio direito; hipocontratilidade difusa do ventrículo esquerdo (VE), strain longitudinal global de 2%, fração de ejeção do VE (FEVE) de 21% - Simpson; a valva aórtica apresentava-se com válvulas intensamente fibrocalcificadas, abertura e mobilidade muito reduzidas, gradiente sistólico médio de 27 mmHg, área valvar de 0,44 cm² e indexada de 0,25 cm²/m². Internado em programação cirúrgica, evoluiu 3 dias após com hipotensão, má perfusão periférica, e oligoanúria com piora de função renal. Após discussão com Heart Team, e considerando STS de 32%, indicada a realização de TAVI de urgência. A angiotomografia revelou parâmetros anatômicos adequados para o tratamento percutâneo. Procedimento realizado com técnica simplificada e otimizada (“minimalista”), sob sedação – visando prevenir agravamento do quadro hemodinâmico. Devido à intensa calcificação e área valvar muito reduzida, realizada pré-dilatação inicial e implantada bioprótese Myval (Meril) 27,5 mm, com sucesso conforme parâmetros do eco transtorácico. Paciente evoluiu com melhora clínica significativa, sendo necessário implante de marcapasso definitivo. O eco evolutivo (5o dia pós TAVI) revelou completa recuperação da FEVE (65% - Simpson), com gradiente transvalvar médio de 3 mmHg e refluxo discreto. CONCLUSÃO:
No caso descrito, a realização de TAVI em caráter de urgência constituiu tratamento seguro e efetivo a paciente portador de EAo grave e choque cardiogênico.