Pericardite epistenocárdica: ainda existe?
Epistinocardial pericarditis: does it still exist?

Rev. Soc. Cardiol. Estado de Säo Paulo; 32 (supl.2B), 2022
Ano de publicação: 2022

INTRODUÇÃO:

A pericardite epistenocáridica é caracterizada como processo inflamatório benigno que ocorre de um a três dias após o infarto (IAM). Com o advento do tratamento de reperfusão, houve uma redução significativa da incidência. Relatamos caso de IAM que evoluiu com derrame pericárdico volumoso com repercussões hemodinâmicas.

RELATO DE CASO:

Homem, 58 anos, admitido com IAM com supradesnivelamento ST (IAMCSST) anterior, de duas horas de evolução e submetido à trombólise com sucesso. Dois dias após, apresentou recorrência de angina e novo IAMCSST anterior. Foi tratado clinicamente e solicitada transferência para hospital terciário para realização de cateterismo dois dias após. Esse revelou lesão grave em artéria descendente anterior e disfunção importante do ventrículo esquerdo (VE). Foi submetido à angioplastia com stent farmacológico com sucesso. Evoluiu estável, em uso de dupla antiagregação plaquetária, entretanto o ecocardiograma revelou derrame pericárdico volumoso (22 mm), com discreto colabamento de átrio direito na diástole, FEVE 30%, aneurisma apical e trombos em VE. Durante internação, apresentou flutter controlado com amiodarona. Foi tratado com altas doses de aspirina (500mg 8/8h) e colchicina (0.5 mg 12/12h) sem redução do derrame. Optou-se pela realização de janela pleuropericárdica, com drenagem de 350 ml de líquido citrino. Paciente recebeu alta após 14 dias, em uso de rivaroxabana e clopidogrel. Em consulta ambulatorial após cinco meses, paciente estava oligossintomático com ecocardiograma revelando ainda disfunção VE (FE=27%), com acinesia apical, sem trombos e ausência de derrame pericárdico.

DISCUSSÃO:

A pericardite epistenocárdica está geralmente, relacionada a infartos extensos sem tratamento de reperfusão. Há raros relatos de derrames pericárdicos volumosos, com repercussão hemodinâmica e necessidade de drenagem. É preconizado o uso de AAS em doses anti-inflamatórias, associado a colchicina. Nesse caso, essas medidas não foram suficientes. A anticoagulação era necessária devido trombos e flutter, porém com risco de transformação hemorrágica. A literatura mostra que na vigência de derrame pericárdico, a anticoagulação pode ser segura com controle ecocardiográfico frequente.

CONCLUSÃO:

Apesar de infrequente, pericardite epistenocárdica pode apresentar derrames volumosos, a despeito da terapia de reperfusão. Este caso evoluiu com achados ecocardiográficos raros e de alto risco com sinais incipientes de tamponamento cardíaco. Inicialmente tratado de forma conservadora, sem regressão do derrame, evoluiu com necessidade de abordagem cirúrgica.

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