Meningite primária por Pseudomonas aeruginosa. Recidiva e cura: dados sobre a frequência das meningites em São Paulo
Primary meningitis due to Pseudomonas aeruginosa. Recurrence and cure: data on the frequency of meningitis in São Paulo
Rev. Inst. Adolfo Lutz; 10 (1-2), 1950
Ano de publicação: 1950
A meningite causada pela Pseudomonas aeruginosa, relativamente pouco frequente, ocorre via de regra secundariamente, isto é, consequente a traumas diretos, otites, mastoidites ou outras infecções locais ou gerais. Muito mais rara, porém, é a meningite primária ocasionada pelo referido germe. Por essa razão, julgamos de interesse a apresentação do caso que observamos e que, em resumo, passamos a relatar: J. S. P., 22 anos, preto, operário. A 19-11-49 teve forte dor de cabeça e, dois dias depois, febre (39°,5C.) e dor na nuca, sendo removido para o Hospital Emílio Ribas. A punção revelou um líquido cefalorraquiano purulento que foi enviado ao Instituto "Adolfo Lutz" para exame bacteriológico. Foram injetadas por via intratecal 30 mil unidades de penicilina. O exame bacterioscópico do material revelou a presença de piócitos e de bacilos gram-negativos, A 24, foi repetida a punção, mantendo-se ainda o líquor purulento e com bacilos gram-negativos. Foi feita injeção de 100mg de estreptomicina. As culturas do 1.° e 2.° líquidos em caldo peptonado, ágar comum, ágar-ovo e ágar-sangue, revelaram desde logo a formação de um pigmento azul-esverdeado típico do bacilo piocíânico. A parte restante do líquido apresentou a mesma coloração, a partir de 24 horas de permanência na estufa a 37°C. Foram feitas mais três punções raquianas e três aplicações de estreptomicina (100mg cada) pela mesma via. Os exames bacteriológicos desses últimos materiais resultaram negativos. Foi dada alta ao doente em 2-12-49. Em 8-1-50 o doente deu novamente entrada no Hospital, apresentando a mesma sintomatologia anterior. O exame bacteriológico do líquor revelou novamente a presença do mesmo germe. Foi administrada por via intratecal, estreptomicina associada à penicilina, e mais sulfadiazina por via oral. Os exames sucessivos, feitos durante alguns dias no líquor, foram positivos até o terceiro material enviado. O quarto líquor resultou negativo, coincidindo com a completa regressão dos sintomas clínicos. Alta em 17-1-50. Durante a recidiva o doente foi acompanhado de perto por um de nós com o fito de investigar a origem da infecção meníngea. Embora negando qualquer passado mórbido intestinal, renal, e de ouvido, procedemos a exames culturais de urina e fezes, os quais resultaram negativos para Pseudomonas aeruginosa. Não foi possível o achado de nenhum foco infeccioso que desse origem à meningite em questão.