Vulnerabilidades de saúde e sexuais de mulheres transexuais e travestis negras
Health and sexual vulnerabilities of black transsexual and transvestite women
BIS, Bol. Inst. Saúde (Impr.); 22 (1), 2021
Ano de publicação: 2021
Com base em pesquisa realizada na cidade de São Paulo, este artigo
debate as vulnerabilidades sexuais e em saúde de mulheres transexuais
e travestis negras, considerando também outros fatores de produção
de desigualdades, como raça, gênero, classe e sexualidade, numa
perspectiva de articulação desses marcadores. Os dados revelam que
a primeira relação sexual praticada por esse público aconteceu predominantemente
antes dos 17 anos (para 60% de travestis e 30% de
transexuais), de modo que a maioria das travestis era negra. Grande
parte dessas pessoas foi acometida por violência sexual (42,9%
das transexuais na infância e 50% das travestis na adolescência),
majoritariamente as negras. A pesquisa mostra que a população
trans feminina negra alegou maiores cuidados de prevenção sexual
que as brancas, seja no uso de camisinha ou nas vacinações.
Tais resultados, somados aos dados de violências física, verbal e
simbólica nas esferas – principalmente públicas – da educação, do
trabalho, da vida social e da saúde, geram um intenso debate sobre
o modo como o pouco suporte estatal e as discriminações vividas
nos locais de assistência, podem afastar mulheres transexuais e
travestis negras do cuidado e impulsionar sua exposição a relações
sexuais precoce e a violências cotidianas, o que promove condições
que reverberam no decorrer de suas trajetórias, trazendo ao mesmo
tempo limites e potencialidades.