Antagonismo sexual ou complementaridade entre os gêneros? apontamentos para um debate sobre gênero na antropologia da Amazônia
Sexual antagonism or gender complementarity? note for a debate on gender in Amazonian anthropology
BIS, Bol. Inst. Saúde (Impr.); 22 (1), 2021
Ano de publicação: 2021
Considerando como correta a vinculação entre feminismo e Antropologia
Social, especificamente o entendimento da opressão feminina
e a pertinência de sua universalidade, as teóricas feministas,
com o intuito de estruturar sua atuação política, paulatinamente
acabaram por apropriar-se dos resultados dos estudos etnológicos
e antropológicos – mesmo que tais estudos fossem preliminares
e centrados em contextos etnográficos diversos e particulares.
Desse modo, para o feminismo, os estudos antropológicos serviram
para aperfeiçoar seus argumentos que reivindicam a constatação
da universalidade da opressão feminina. A maioria desses
debates foi pautada, portanto, em estudos antropológicos que
tratam do complexo ideológico do “antagonismo sexual” – definido
por Quinn (1974) por meio de exemplos como segregação dos
espaços e das atividades rituais secretas às mulheres e às crianças,
presença de estupros coletivos e sanção às mulheres frente
a atos não desejáveis, incluindo a percepção do sangue menstrual
como uma “poluição feminina”. Já outra corrente de estudos, que
chamo aqui de “complementaridade de gênero”, surgiu focada na
construção da “diferença de gênero” para cada contexto específico
e evitando generalizações e universalizações de categorias que
são propriamente ocidentais.