Rev. Soc. Cardiol. Estado de Säo Paulo; 33 (supl. 2B), 2023
Ano de publicação: 2023
INTRODUÇÃO:
presença de mais de uma variante patogênica em indivíduos afetados com amiloidose por transtirretina hereditária é ocorrência extremamente rara. Os casos descritos de heterozigose composta envolvem as variantes mais comuns no gene TTR, c.148G>A (p. V50M) e c.424G>A (p.V142I). Descrevemos um caso envolvendo rara variante patogênica em heterozigose c.208A>C (p.S70R) em associação com p.V142I, apresentando um quadro clínico precoce e extremamente grave. MÉTODOS:
estudo retrospectivo, observacional. RELATO DE CASO:
Paciente (p) de 41 anos de idade, masculino, procedente de São Paulo, pai e mãe brasileiros. Mãe com acometimento neuropático, precisou ficar acamada 4 meses por dores, falecendo aos 60 anos sem diagnóstico, três irmãs com sintomas parecidos com os do p. HDA:
Início dos sintomas aos 40 anos, desidrose, fraqueza muscular intensa, parestesia em membros superiores, principalmente mãos e perda da propriocepção de membros inferiores. Também referia olhos secos, palpitações esporádicas, dispneia classe funcional III/IV, tonturas frequentes e síncopes com pródromos, perda de peso, 22 kg em 1 ano, saciedade precoce e diarreia. Exame físico, PA 80/60mmHg, sem outras alterações. ECG:
ritmo sinusal, baixa voltagem no plano frontal e zona inativa ânterosseptal e alteração difusa da repolarização ventricular e QTC longo (459ms), como observado na figura 1. Ecocardiograma:
aumento simétrico de espessura de paredes, septo de 19 e parede posterior 15, do ventrículo direito e átrios. Fração de ejeção de 46% e padrão de apical sparing. Cintilografia com pirofosfato:
grau III de Perugini e relação HTE/HTD de 2,4, como observado na figura 2. Relação kappa/ lambda normal. Estudo genético:
duas variantes patogênicas em heterozigose no gene TTR, c.208A>C (p.S70R) e c.424G>A (p.V142I). COMENTÁRIOS E CONCLUSÃO:
p com fenótipo misto, neurológico e cardiológico, em idade mais precoce, distinto do quadro exclusivamente neurológico descrito em um paciente japonês e duas famílias ibéricas relatados na literatura até o momento envolvendo c.208A>C (p.S70R) em heterozigose. Já c.424G>A (p.V142I), por sua vez, está quase exclusivamente associada a fenótipo cardiológico em idade mais tardia, geralmente acima dos 60 anos. A presença da segunda variante pode explicar a precocidade do fenótipo cardíaco em nosso p. Concluímos que a dupla de variantes confere maior precocidade e gravidade das manifestações clínicas.