Papel do destreinamento físico na investigação da hipertrabeculação do ventrículo esquerdo em atleta: série de casos
Role of physical detraining in the investigation of left ventricular hypertrabeculation in an athlete: case series

Arq. bras. cardiol; 120 (9 supl. 1), 2023
Ano de publicação: 2023

INTRODUÇÃO:

A hipertrabeculação do ventrículo esquerdo (VE) é um critério, mas não sinônimo, da entidade Miocárdio Não Compactado (MNC). Sabe-se que a trabeculação excessiva foi relatada em estados fisiológicos de aumento de pré e pós-carga em atletas. A prevalência entre atletas competitivos pela ecocardiografia varia entre 1,4% e 8,1%. Não existem dados que suportem inelegibilidade pela existência de trabeculação excessiva isolada (estrutura e função miocárdica normais). Nesses casos, além de assintomáticos e sem histórico familiar (HF) de morte súbita (MS), a distinção para MNC pode ser desafiadora.

RELATO DOS CASOS:

AGS, 22 anos, ex-tabagista, jogador de futebol não-profissional (treinava 3 horas por dia, 5x/semana) e praticante de corrida (6 km, 3x/ semana), assintomático, foi submetido a eletrocardiograma (ECG) e ecocardiograma transtorácico (ECOTT) em serviço externo, recebendo diagnóstico de MNC aos 15 anos. Foi encaminhado ao setor de cardiologia do esporte deste serviço em 2021, com ECG inocente, sem alteração de onda T, teste ergométrico (TE) sem anormalidades; Ressonância Magnética Cardíaca (RMC) evidenciando VE com dimensões aumentadas, função sistólica biventricular preservada, achados sugestivos de MNC, na ausência de fibrose miocárdica. O paciente foi orientado a realizar destreinamento por 7 meses, realizando nova RMC em 2023, que evidenciou compactação miocárdica preservada.

Caso 2:

JPL, 63 anos, ex-maratonista, sem comorbidades, atualmente praticante de corrida (cerca de 12-15 km/dia), apresentando aumento da trabeculação miocárdica maior que 2,3:1 em 3 segmentos cardíacos, sendo orientado destreinamento, que resultou em ausência de hipertrabeculação em RMC com função sistólica do VE preservada, cinco anos depois.

Caso 3:

NBO, 18 anos, praticante de futebol não-profissional, diagnosticado com aumento de trabeculação em ECOTT e RMC (2019), não fechando critério para o diagnóstico de MNC. O mesmo foi afastado de suas atividades de treinamento, realizando nova RMC em 2022, que evidenciou VE com dimensões, espessura e função preservada, além de compactação miocárdica habitual.

CONCLUSÃO:

A hipertrabeculação do VE é uma alteração fisiológica do exercício de alta intensidade, sendo sua distinção, portanto, de MNC em atletas, um desafio. Em casos assintomáticos, sem HF de MS e com aumento isolado de trabeculações, o destreinamento é uma opção no diagnóstico, afastando a patologia caso o achado morfológico não se sustente após.

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