Arq. bras. cardiol; 120 (9 supl. 1), 2023
Ano de publicação: 2023
INTRODUÇÃO:
A Insuficiência Cardíaca (IC) é um problema de saúde pública mundial e um grande número de pacientes evolui para estágio avançado com necessidade de transplante cardíaco. Nesse cenário, o uso de dispositivos de assistência ventricular (DAV) de curta permanência é uma realidade como terapia de ponte. O uso dos DAV nesta condição ainda é inquietante, frente ao tempo de espera na fila, podendo ultrapassar o recomendado à permanência desses dispositivos. DESCRIÇÃO DO CASO:
Paciente feminino, 44 anos, portadora de IC avançada por miocardiopatia chagásica com marcapasso definitivo desde 2011 devido a bloqueio atrioventricular total. Admitida no pronto socorro no dia 14/06/22 por dispneia classe funcional NYHA IV e sintomas de baixo débito cardíaco em vigência de tratamento clínico otimizado. Internada para compensação clínica. Ecocardiograma transtorácico com presença de disfunção biventricular importante (fração de ejeção do ventrículo esquerdo de 15% e fração de variação da área do ventrículo direito de 29%). Realizado teste de vasorreatividade pulmonar via cateterismo direito, evidenciando uma resistência vascular pulmonar de 1,0 UW, sem outro complicador ou contraindicação. Após avaliação multidisciplinar, foi listada para a fila de transplante cardíaco sob regime de priorização por dependência de inotrópico. Evoluiu com disfunção orgânica, configurando classificação INTERMACS 2. Submetida no dia 04/11/22 ao implante de balão intra-aórtico (BIA) em artéria femoral direita como terapia de ponte e resgate hemodinâmico. Permaneceu em uso de BIA durante 225 dias (mais de 7 meses), mantendo adequada estabilidade, sem complicações relacionadas ao dispositivo ou à internação, nem necessidade de reinstalação ou troca de sítio. Em 17/06/23 foi encaminhada à cirurgia de transplante cardíaco ortotópico bicaval unipulmonar, com sucesso. Indicado a retirada do DAV no 1º dia de pós-operatório, sem intercorrências. Realizado por dissecção arterial para prevenir complicações por aderência ao tecido devido ao tempo prolongado do dispositivo. CONCLUSÃO:
Não há formalmente uma recomendação do tempo máximo de permanência do BIA, no entanto, seu uso prolongado é geralmente descrito como acima de 14 dias. Até o momento, não se encontraram registros de implante prolongado deste dispositivo no período maior ou igual ao exposto no relato, denotando um caso raro e de sucesso, este atribuído aos cuidados específicos da equipe multidisciplinar do centro transplantador.