O artigo relata e discute alguns casos recentes e desafiadores entre homens trans adolescentes e jovens atendidos no Centro de Referência e Treinamento DST/Aids (CRT DST/Aids) de São Paulo. O avanço em direitos e visibilidade de pessoas trans tem lhes propiciado novas possibilidades de existência social que, por sua vez, têm repercutido nos âmbitos de relacionamentos e sexualidade.

Tais mudanças implicam em pelo menos duas responsabilidades para os profissionais de saúde:

a possibilidade de gestação por pessoas transmasculinas e sua inserção em redes sexuais de alta circulação do HIV e de outras infecções sexualmente transmissíveis (IST).

Os casos abordados são:

1. contracepção e profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP) para um adolescente trans pansexual se relacionando com uma mulher trans; 2. uma gestação não planejada e vulnerabilidade ao HIV e IST em um jovem homem trans gay se relacionando com um homem cis; 3. cervicite gonocócica recorrente em um jovem homem trans pansexual vivendo com HIV que se relaciona com uma mulher cis; 4. o processo de transição de gênero, social e médica, em um homem trans com aids que adquiriu o HIV por transmissão vertical; e 5. o planejamento pré-concepcional em um casal formado por homem trans e mulher trans. Os casos chamam a atenção para o fato de que três campos distintos da rede de saúde – saúde sexual, saúde reprodutiva e cuidados às pessoas vivendo com HIV/Aids – precisam se renovar e incluir as necessidades específicas de homens trans e pessoas transmasculinas em geral.