ABC., imagem cardiovasc; 37 (3 supl. 1), 2024
Ano de publicação: 2024
APRESENTAÇÃO DE CASO:
Paciente de 60 anos apresentou em ecocardiograma transtorácico achado de obliteração apical do ventrículo direito (VD), sem aumento de átrio direito nem sinais ecocardiográficos de restrição ao enchimento ventricular (achados não compatíveis com endomiocardiofibrose). Foi injetado solução salina agitada (macrobolhas), reforçando a imagem de obliteração apical, sem detalhes anatômicos adicionais. Em seguida, administrou-se agente de realce de ultrassom (ARUS), que evidenciou preenchimento do VD com amputação parcial do ápice, devido a trabeculação aumentada em segmento apical do septo, com aumento da espessura miocárdica até a via de saída proximal do VD, sem obstrução dinâmica de fluxo e sem defeitos de preenchimento nem aumento da captação na região após o pulso de alta energia ultrassónica, quando comparado com o miocárdio adjacente, o que afastou hipóteses de trombo ou neoplasias. Concluiu-se então que a amputação seria secundária ao aumento da espessura miocárdica do VD, sem acometimento do ventrículo esquerdo (VE). A ressonância magnética confirmou o diagnóstico de cardiomiopatia hipertrófica (CMH), com acometimento exclusivo do ápice de VD e septo ventricular na porção apical. Ambos os métodos documentaram fração de ejeção de VD preservadas, contudo, o strain, quando incluída a porção apical do VD, era reduzido (-13%). DISCUSSÃO:
Entre os diagnósticos diferenciais da obliteração ventricular, devemos incluir a endomiocardiofibrose, variante apical de CMH, e massas como trombos e tumores. A utilização de ARUS tem papel bem documentado no diagnóstico dessas entidades no VE pela capacidade de passar o capilar pulmonar e opacificar as cavidades esquerdas, contudo existe poucos casos na literatura de CMH isolada de VD e de utilização de ARUS com esse objetivo específico. COMENTÁRIOS FINAIS:
A utilização de ARUS para avaliação do VE, tem indicações consagradas. O caso documenta a utilidade dos ARUS para avaliações de alterações dentro do ventrículo direito, principalmente com estudo de perfusão, não apenas para afastar a possibilidade de trombos e tumores, como para melhor opacificação das bordas endocárdicas. Já que os dados sobre os parâmetros de avaliação de CMH de VD são muito escassos quando comparado com os dados disponíveis no ventrículo esquerdo, a utilização de ARUS nesses pacientes poderia fornecer informações importantíssimas para documentar o acometimento isolado do VE, biventricular ou exclusivo de VD.