Comunicação interventricular por dupla lesão septal traumática: a importância do diagnóstico em tempo sensível
Ventricular septal defect due to double traumatic septal injury: the importance of time-sensitive diagnosis

Arq. bras. cardiol; 121 (9 supl.1), 2024
Ano de publicação: 2024

INTRODUÇÃO:

Lesões torácicas penetrantes com acometimento cardíaco representam um dos mais devastadores cenários na sala de emergência, com mortalidade que pode chegar a 60%. A comunicação interventricular traumática (CIVT) é identificada em 1-5% dos casos. A apresentação clínica pode variar desde congestão até mesmo com tamponamento cardíaco e choque cardiogênico.

CASO CLÍNICO:

Paciente de 55 anos, avaliado no pronto-socorro por quadro de dispneia, edema de membros inferiores e ortopneia iniciados há cinco dias da admissão. Relatou avaliação em outro serviço por lesão torácica traumática por arma branca vinte dias antes. À época não realizou exames de imagem. Na triagem foi identificado sopro holossistólico 4+/6+, mais audível em bordo esternal esquerdo. O ecocardiograma revelou dupla lesão no septo interventricular, localizadas no segmento médio apical do septo, com 7mm e 4mm de diâmetro, compatível com CIVT e posteriormente confirmadas com a angiotomografia cardíaca. O ecocardiograma transesofágico (ECOTE) identificou insuficiência tricuspídea grave por laceração da banda moderadora e do aparato subvalvar. Por tais achados, a cirurgia cardíaca indicou bandagem pulmonar, vista a impossibilidade de implante da prótese Amplatzer. Apresentou hematêmese secundária à úlcera gástrica benigna confirmada por biópsia, que impedia a utilização de circulação extracorpórea durante o procedimento cirúrgico. Seguiu internado em leito de terapia intensiva para tratamento da úlcera gástrica e posterior realização do procedimento. Por broncoaspiração após novo episódio de hematêmese, necessitou de ventilação mecânica, droga vasoativa e hemodiálise contínua por lesão renal aguda em contexto de choque cardiogênico e hipovolêmico. Apesar dos esforços para a compensação hemodinâmica, inclusive com uso de balão intraaórtico, evoluiu para o óbito secundário ao choque cardiogênico refratário.

CONCLUSÃO:

A CIVT é uma complicação e com alta taxa de morbimortalidade. No caso acima descrito, a realização do primeiro ecocardiograma ocorreu 20 dias após a lesão traumática, e resultou na evolução desfavorável para insuficiência cardíaca e choque cardiogênico refratário. A suspeição clínica através da anamnese inicial é o ponto imprescindível para a realização do ecocardiograma, que apresenta papel fundamental no diagnóstico desta entidade e deve ser realizado ainda no ambiente do pronto-socorro a fim de evitar desfechos catastróficos.

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