Int. j. cardiovasc. sci. (Impr.); 37 (suppl.9), 2024
Ano de publicação: 2024
INTRODUÇÃO:
A estimulação cardíaca artificial visa corrigir bradiarritmias simulando a fisiologia miocárdica através de diversos algoritmos e intervalos. Dentre eles, destacam-se a busca por condução atrioventricular (AV) própria por intervalo atrioventricular (IAV) longo, evitando a estimulação desnecessária, e o período de blanking ventricular (PBV), desviando de crosstalk. RELATO DE CASO:
Paciente feminina, 67 anos, com miocardiopatia chagásica e disfunção do nó sinusal, portadora de marca-passo (MP) bicameral, internada por insuficiência cardíaca (IC) descompensada no Instituto Dante Pazzanese. O dispositivo estava programado em DDD com IAV de 200/200ms, algoritmo de busca de condução AV ativado (+100ms) e PBV de 44ms. Durante internação em UTI, evidenciado 100% de estimulação atrial e extrassístoles ventriculares (EV`s) frequentes, evoluindo para taquicardia ventricular (TV) monomórfica sustentada sem pulso induzida pelo MP. Instituido ressuscitação cardíaca e desfibrilação com retorno da circulaçao espontânea e posterior reajuste do dispositivo. A paciente evoluiu a óbito por complicações da internação. DISCUSSÃO:
Dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis (DCEI) podem ter efeito pró-arrítmico em ciclos de estimulação curto-longo-curto e em estimulação assíncrona durante período refratário relativo do ventrículo. No caso acima, a programação de IAV longo e PBV nominal de 44ms permitiram a estimulação ventricular sobre a onda T da EV, desencadeando uma TV induzida pelo MP. Ou seja, devido quadro de IC descompensada e EV`s frequentes, a estimulacao atrial aconteceu coincidentemente com a ectopia ventricular, a qual nao foi sentida pelo MP por ocorrer em PBV do aparelho e, após 300ms de IAV, foi gerado estímulo ventricular sobre a onda T (período refratário relativo do ventrículo), desencadeando a arritmia. CONCLUSÃO:
Pacientes com condução AV própria e mecanismos de prolongamento de IAV ligados devem ser obrigatoriamente reprogramados para o menor PBV possível, uma vez que não sofrerão pausa ventricular por crosstalk e evitarão uma estimulacao ventricular sobre a onda T de uma EV. Aprogramação dos DCEI deve ser cautelosa e individualizada para evitar efeitos deletérios da estimulação.