Monitoramento da infecção pelo HIV-1: diagnóstico da infecção aguda e proposta de um algoritmo para identificação de casos recentes
Ano de publicação: 2020
Teses e dissertações em Português apresentado à Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo para obtenção do título de Doutor. Orientador: Luís Fernando de Macedo Brígido
O tratamento antirretroviral eficaz tornou a aids uma doença crônica
manejável, porém, passados quase quarenta anos, a epidemia se sustenta.
Entender quem são os indivíduos responsáveis pelos novos casos (infecção
incidente), que apresentam maior transmissibilidade, vinculá-los rapidamente
no tratamento e mantê-los com adesão é importante estratégia para quebra
da cadeia de transmissão (indetectável=intransmissível). Nosso estudo
procurou identificar casos recentes e avaliar a factibilidade de se reconhecer
estes casos, não somente na admissão no serviço, para priorizar esta
vinculação, mas também, para fins de vigilância epidemiológica, propondo
uma pontuação de identificação, sem custo adicional ao SUS, combinando
parâmetros laboratoriais e clínicos (e.g. sintomas suspeitos de SRA no último
ano, CD4 e carga viral no diagnóstico). Amostras de uma coorte de 204
pacientes (2011-2017) foram avaliadas em testes de estimativa de tempo de
infecção [índice de avidez (Bio-rad, protocolo CEPHIA), CMIA (architect) e
índice de ambiguidade da sequência pol. Nestes a proporção de casos
recentes foi de 26,3% (CMIA<250 RLU), 56% (índice de avidez<80%) e 68,5%
(ambiguidade<0,5%) sugerindo que novas infecções são responsáveis por
cerca de metade dos casos. Os valores do índice de avidez e da CMIA, índice
de avidez e do índice de ambiguidade, mostraram-se correlacionados
(Spearman, p<0,005), sugerindo terem boa comparabilidade. A pontuação foi
testada quanto ao seu poder preditivo (curva ROC) para diferentes definições
de identificação da infecção recente. A pontuação de melhor poder
discriminativo foi quatorze, com sensibilidade de 66-80% e especificidade de
75-84%, com área sobre a curva de 0,77-0,87. Entre os 204, destacamos 7
casos de infecção na fase aguda entre 47 suspeitos, diagnosticados por
biologia molecular, e adicionais 3/546 casos com sintomas compatíveis com
SRA, testados e negativos para dengue na epidemia de 2015. A resistência
primária mostrou-se baixa (6%) e houve elevada supressão viral (95%). Nesta
coorte, o uso de teste molecular e da sorologia de 4ª geração, foram
importantes na identificação de casos agudos, porém necessitam de estudos
de custo efetividade para sua incorporação de forma mais ampla.