Convivendo com a diversidade: a inclusão da criança com deficiência intelectual segundo professoras de uma escola pública de ensino fundamental

Ano de publicação: 2005
Teses e dissertações em Português apresentado à Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas para obtenção do título de Mestre. Orientador: Sampaio, Sônia Maria Rocha

A educação inclusiva vem firmando-se no âmbito internacional e na legislação brasileira como caminho para se garantir uma educação de qualidade para todos. Para sua efetiva implementação, é necessária uma extensa reorganização escolar, na qual se destaca a formação do professor. Considerando que a Psicologia pode e deve contribuir como um instrumento de apoio para a educação inclusiva, este estudo buscou descrever as experiências de professoras em relação à inclusão de crianças com deficiência intelectual, partindo-se do pressuposto de que as crenças e os sentimentos dos atores da escola precisam ser mais considerados, pois são um caminho seguro para identificar quais os fatores facilitadores e/ou dificultadores para a adoção de uma prática pedagógica pautada em princípios inclusivos. A fundamentação teórica baseou-se nas contribuições da teoria histórico-cultural (Vygotsky,1997,1998) e nas articulações da psicanálise com a educação ( Freud,1914, 1933; Kupfer, 1997, 2005, entre outros). Adotou-se como estratégia de investigação o estudo de caso de cunho etnográfico. A coleta de dados foi realizada através da observação participante e de entrevistas semi-estruturadas com oito professoras de uma escola pública regular do ensino fundamental, que tinham em suas classes alunos com deficiência intelectual no ano de 2004. Foi utilizada a técnica de análise de conteúdo temática, em um processo de diálogo constante com os dados, que resultaram em cinco categorias de análise.

Os resultados apontam para um discurso ambivalente frente à inclusão:

ora as participantes apontam seus benefícios, reconhecem sua pertinência educativa e social, falam de estratégias pedagógicas que valorizam a singularidade dos alunos; ora demonstram dúvidas e resistências, deixando claro seu incômodo diante da deficiência intelectual, principalmente diante de um comprometimento mais severo. Demandam um maior apoio institucional e uma formação específica. Essa análise indica a confirmação da premissa de que o conhecimento pedagógico e informações sobre a deficiência são importantes numa formação para educação inclusiva, mas devem-se considerar também os aspectos subjetivos envolvidos nesse processo, pois se trata de uma mudança de posição que implica em rever preconceitos, repensar concepções sobre a educação e o papel da escola, e ainda lidar com a mobilização afetiva e os limites à intervenção pedagógica que a deficiência pode trazer. Sugere-se que promover espaços de acolhimento e escuta da angústia que possa emergir dessa convivência deva ser um aspecto importante a ser considerado em uma formação continuada para inclusão, a fim de que o professor possa sair de uma postura imobilizante frente à deficiência e adotar uma prática pedagógica efetivamente inclusiva. Neste sentido, abre-se um campo de atuação para o psicólogo escolar, sendo este tema um dos possíveis desdobramentos deste estudo: aprofundar a discussão sobre o lugar do psicólogo na escola inclusiva.

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