O pertencimento: em direção a uma fenomenologia da carne
Belonging: toward a phenomenology of the flesh
La pertenencia: en dirección a una fenomenología de la carne
Rev. abordagem gestál. (Impr.); 25 (2), 2019
Publication year: 2019
O texto busca interrogar o verdadeiro sentido e alcance ontológico da experiência do corpo ou da carne, num movimento, inclusive, para além de Merleau-Ponty. Para tanto, trata-se de perguntar se esse sentido do ser do corpo, ao invés de uma solução, não indicaria um problema mal colocado haja vista que tal noção parece se limitar quanto à descrição do seu modo mesmo de existir. Ora, o que aqui advogamos é que essa experiência fundamental é a do pertencimento. É, pois, na medida em que pertencemos ao mundo que temos um corpo: ter um corpo não significa outra coisa mais do que pertencer. Nessa direção, propomos uma fenomenologia do pertencimento da qual só há aparição do mundo a partir de dentro dele, isto é, via uma inscrição nele próprio. Assim, a comunidade ontológica e a diferença fenomenológica constituem duas faces de uma mesma moeda, já que é por sermos do mundo num sentido mais profundo do que os demais entes que somos capazes de fazê-lo aparecer como nenhum ente o faz.
Tal é o verdadeiro sentido de ser da carne:
ela não é corpo nem consciência, mas uma posse (perceptiva) do mundo que é a contrapartida de uma desaposse (carnal) por esse mundo.
The text seeks to interrogate the true meaning and ontological scope of the experience of the body or the flesh, in a movement, even beyond Merleau-Ponty. For this, it is a matter of asking whether this sense of the being of the body, instead of a solution, would not indicate an ill-placed problem, since such a notion seems to be limited as to the description of its own mode of existence. Now, what we advocate here is that this fundamental experience is that of belonging. It is, therefore, insofar as we belong to the world that we have a body: to have a body means nothing else than to belong. In this direction, we propose a phenomenology of belonging, of which there is only the appearance of the world from within it, that is, via an inscription on it. Thus the ontological community and the phenomenological difference are two sides of the same coin, since it is because we are of the world in a deeper sense than the other entities that we are able to make it appear as no one does.
Such is the true sense of being of the flesh:
it is not body nor consciousness, but a possession (perceptive) of the world which is the counterpart of a (carnal) disappearance.
El texto busca interrogar el verdadero sentido y alcance ontológico de la experiencia del cuerpo o de la carne, en un movimiento, incluso, más allá de Merleau-Ponty. Para ello, se trata de preguntar si ese sentido del ser del cuerpo, en vez de una solución, no indicaría un problema mal planteado puesto que tal noción parece limitarse a la descripción de su modo de existir. Ahora bien, lo que aquí abogamos es que esa experiencia fundamental es la de la pertenencia. Es, pues, en la medida en que pertenecemos al mundo que tenemos un cuerpo: tener un cuerpo no significa otra cosa más que pertenecer. En esa dirección, proponemos una fenomenología de la pertenencia de la cual sólo hay aparición del mundo desde dentro de él, es decir, vía una inscripción en él mismo. Así, la comunidad ontológica y la diferencia fenomenológica constituyen dos caras de una misma moneda, ya que es por ser del mundo en un sentido más profundo que los demás entes que somos capaces de hacerlo aparecer como ningún ente lo hace.