Um livreto sobre o homem
A booklet about man
Rev. abordagem gestál. (Impr.); 25 (2), 2019
Publication year: 2019
Eu concordo com o palestrante, o professor Lotz, que o ser humano transcende a natureza e que "com a força da sua essência" é que "produz o mundo, mesmo que a sua aparência básica esteja se mantendo e assumindo faces históricas diversas e sempre novas". Mas, é verdade também que a sua "atividade consciente manifesta-se em três formas básicas: em conhecer o que é verdadeiro; em fazer o Bem; e, em criar o Belo (Beleza)". No entanto, ainda resta a ser explicado o que é a essência da sua atividade criativa e qual é a relação entre o mundo produzido pelo humano e a Natureza na qual ele se encontra no início da sua atividade.
Podemos explicar a essência do ser humano, trazendo o sentido e o modo de existir da sua obra que encontra na base na Natureza. É de pouca importância, nesse caso, a pergunta de como se entende a própria Natureza: como todas as coisas, como tudo que é visível ou então como a totalidade do ser. Deve se considerar apenas fato de que a Natureza existe antes de qualquer atividade do homem e que vai mudando dentro dela mesma, a princípio, independentemente não somente da atividade do homem, mas também da sua existência. Ela também é a última base tanto do seu ser, quanto da existência das suas obras. Percebe-se isso nem tanto no fato da cognição humana, mas no conteúdo e no modo de existir dos artefatos da cultura humana.
Hoje, são raras as vezes que o humano encontra-se diante da Natureza originária, como por exemplo: durante um passeio solitário nas montanhas ou durante uma tempestade no mar ou, enfim, quando se é uma testemunha de um desenvolvimento inevitável de uma doença mortal do seu amigo, sentindo-se completamente impotente- em qualquer tentativa de salvá-lo. Nesses casos, o humano se admira, talvez, com a beleza e a grandeza da Natureza, ou talvez esteja apavorado com a força destemida de uma tempestade, ou sente que as coisas estão caminhando fatalmente rumo ao que foi traçado pela própria Natureza e nada pode impedir a desgraça a acontecer. Todavia, sempre um sentimento muito especial preenche o humano, cuja face é dupla. Por um lado, ele se sente muito estranho a tudo aquilo que acontece na Natureza, independentemente dele e se percebe como privado de qualquer ajuda amigável da parte dela, ao ponto de quase perder a confiança no destino. Por outro, se sente, na sua essência pura e autônoma, algo superior a Natureza e algo tão mais nobre que os processos meramente físicos ou aquilo que acontece nos animais, que não consegue se encontrar em um relacionamento estreito com a Natureza e viver no meio dela, unido com ela, sendo plenamente feliz.
Às vezes quando o humano descobre em si algo da Natureza originária, sente-se não apenas bastante humilhado com isso, mas também se estranha com consigo, e é nessa hora que se torna incompreensível a ele mesmo. Não pode e nem quer acreditar que ele é um membro da Natureza originária; que ele é um animal, mas que não é, nem como realidade natural, nem como um certo individua. E, sob nenhuma condição é algo melhor do que os animais, nem também algo radicalmente diferente do resto da Natureza. No fundo do coração não consegue acreditar nisso, mesmo se a ciência lhe diz que os processos vitais que acontecem no seu corpo e até em sua alma não são, de fato, de um outro tipo do que os que acontecem nos animais. Daí que no fundo do coração não acredita [o homem] na sua própria morte, está convencido a si mesmo de que a sua alma é imortal, mesmo se diariamente presencia a morte dos amigos e colegas de trabalho. Não entende também a morte de outras pessoas é fica então apavorado ao ver um cadáver se decompondo, por isso o esconde na profundeza da terra.