As práticas integrativas e complementares no campo da saúde: para uma descolonização dos saberes e práticas
Integrative and complementary practices in the health field: towards a decolonization of knowledge and practices
Saúde Soc; 29 (1), 2020
Publication year: 2020
Resumo O manuscrito, em forma de ensaio, objetiva contribuir para o diálogo entre as abordagens das Epistemologias do Sul e o campo da saúde, com ênfase nas relações entre a biomedicina e os saberes e práticas tradicionais, complementares e integrativos. Essas relações são exploradas a partir da produção do conhecimento sobre as dimensões do saber, do poder e do ser na perspectiva da descolonização. Estudo de natureza teórico-conceitual. A descolonização do saber procura descolonizar a ciência e apropriar-se dela de forma contra-hegemônica, valorizar a interculturalidade, abrindo espaços para a inclusão dos diferentes tipos de saberes e práticas de cuidado. A descolonização do poder supõe a igualdade frente ao livre acesso e exercício dos diferentes tipos de recursos terapêuticos, deixando de tratá-los de forma marginal. A descolonização do ser incorpora práticas terapêuticas no campo da subjetividade, como a religiosidade/espiritualidade e as artes, sendo necessárias para a completude da pessoa. Dos encontros e articulações dessas dimensões emergem ecologias de saberes, abrindo o caminho à descolonização na saúde. O campo da saúde pública tem um papel central a desempenhar nesse processo, mas falta ampliar a sua concepção de saúde, incorporando a sua diversidade e pluralidade de saberes e práticas sociais.
Abstract This essay contributes to the dialogue between the approaches of Epistemologies of the South and the health field, focusing on the relationship between biomedicine and traditional, complementary and integrative knowledge and practices. Such relations are explored by using dimensions of knowledge, power and the self, based on the perspective of decolonization. This is a theorical-conceptual study. The decolonization of knowledge aims to decolonize science and appropriate it in an anti-hegemonic manner to value interculturality, enabling the inclusion of different types of knowledge and care practices. The decolonization of power presupposes equality in the face of free access while performing different types of therapeutic resources, not considered as marginal forms of treatment. The decolonization of the self incorporates therapeutic practices in subjective areas, such as religiosity/spirituality and the arts, which are necessary to a whole conception of the person. Ecologies of knowledges emerge from the encounters and articulations of these dimensions, as a pathway for decolonization in health. The public health field has a central role in this process, but its conception of health must be broadened by incorporating diversity and plurality of knowledges and social practices.