O que a pesquisa sobre raciocínio clínico tem a dizer a preceptores e professores de áreas clínicas?
What does research on clinical reasoning have to say to clinical teachers?

Sci. med. (Porto Alegre, Online); 30 (1), 2020
Publication year: 2020

O raciocínio clínico é um fator determinante da performance do médico, crucial para chegar a um diagnóstico correto e possibilitar decisões terapêuticas adequadas. Ajudar seus estudantes a desenvolver o raciocínio clínico é um desafio diário de muitos professores e, para selecionar estratégias de ensino adequadas, pode ser útil conhecer um pouco dos resultados da pesquisa sobre raciocínio clínico que vem se desenvolvendo já há algumas décadas. Este artigo traz uma síntese de achados desta pesquisa que ajudam a compreender os processos cognitivos envolvidos no raciocínio clínico, a trajetória que leva o estudante de uma condição de “iniciante” `a de “expert” e abordagens instrucionais que têm se mostrado úteis para facilitar esta trajetória. O foco do artigo é o processo diagnóstico, porque é ele que tem sido o objeto central de pesquisa. Esta pesquisa indica que não há estratégias de raciocínio específicas, próprias do médico expert, que possam ser ensinadas ao estudante. É a existência de uma larga base de conhecimentos organizados na memória em scripts de doenças de diversos formatos que explica o melhor desempenho do expert. Quanto mais numerosos, mais ricos e melhor organizados são os scripts que um médico tem na memória, mais apto ele está para fazer diagnósticos acurados. Estes scripts são formados gradualmente ao longo dos anos de formação e para desenvolvê-los o estudante deve ser exposto a uma grande diversidade de problemas clínicos, com os quais ele deve interagir de forma ativa. Abordagens instrucionais que requerem que o estudante reflita de forma sistemática sobre os problemas, analisando diferenças e similaridades entre eles, explicando mecanismos subjacentes, comparando e contrastando diagnósticos alternativos têm se mostrado úteis para ajudar a refinar scripts de doenças e são ferramentas valiosas para os professores interessados no desenvolvimento do raciocínio clínico de seus estudantes.
Clinical reasoning is a crucial determinant of physicians’ performance. It is key to arrive at a correct diagnosis, which substantially increases the chance of appropriate therapeutic decisions. Clinical teachers face the daily challenge of helping their students to develop clinical reasoning. To select appropriate teaching strategies, it may be useful to become acquainted with the results of the research on clinical reasoning that has been conducted over the last decades. This article synthesizes the findings of this research that help in particular to understand the cognitive processes involved in clinical reasoning, the trajectory that leads the student from novice to expert, and instructional approaches that have been shown to be useful to facilitating this trajectory. The focus of the article is the diagnostic process, because it is about it that most research has been conducted. This research indicates that there is not a particular reasoning strategy that is specific to expert physicians and could be taught to students. It is the availability of a large knowledge base organized in memory in illness scripts of different formats that explains the expert’s better performance. The more, the richer, and the more well-structured are the illness scripts a physician has stored in memory, the more he/she would be able to make accurate diagnoses. These scripts are formed gradually over the years of education. To help develop them, students should be exposed to a wide variety of clinical problems, with which they must interact actively. Instructional approaches that require students to systematically reflect on problems, analyzing differences and similarities between them, explaining underlying mechanisms, comparing and contrasting alternative diagnoses, have proved useful to help refine disease scripts. These approaches are valuable tools for teachers concerned with the development of their students clinical reasoning.

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