Neisseria gonorrhoeae conjunctivitis in a prepuberal girl - a dilemma: sexual violence or non-sexual transmission?
Conjuntivite por Neisseria Gonorrhoea em menina prepubere – um dilema: violência sexual ou transmissão não sexual?

DST j. bras. doenças sex. transm; 30 (1), 2018
Publication year: 2018

Introduction:

Sexually transmitted infections (STIs) are a public health issue of global concern and frequently lead to important sequelae if not diagnosed and properly treated. Neisseria gonorrhoeae (NG) infection is one of the most prevalent STIs worldwide and recently presents increasing incidence and antimicrobial resistance rates. Apart from the neonatal period, NG infection during childhood is considered evidence of sexual violence (SV). However, defining perpetration of violence can be challenging in clinical practice.

Objective:

To report a case of conjunctivitis due to NG in a prepuberal girl and discuss possible means of infection acquisition and medical forensic implications.

Case report:

A 7-year-old female Caucasian student from São Paulo was referred to the Rape Care Center (Núcleo de Atendimento a Vítimas de Violência Sexual – NAVIS) outpatient clinic to investigate sexual violence in September 2013. At admission, she reported right ocular hyperemia for 10 days with no response to tobramycin eye drops.

Personal history:

nothing noteworthy. She lived with her mother and grandmother and visited her father every two weeks. Physical and gynecological examinations were normal.

Eye examination:

Left eye — nothing noteworthy. Right eye — palpebral edema, conjunctival hyperemia with purulent exudate and upper corneal perforation. Bacterioscopy of conjunctival secretion was positive for Gram-negative diplococci and NG was isolated in culture. The patient was submitted to suturing of right eye perforation and received 1g intravenous ceftriaxone per day for 10 days. During investigation at the NAVIS outpatient clinic, the mother denied any SV episode or school behaviour change. Multidisciplinary psychosocial care was provided to the child and her mother for over 6 months, but SV could not be characterized. STIs investigation for HIV, hepatitis B and C infections and syphilis resulted negative. Based on the literature, a hypothesis of accidental intra-familial non-sexual transmission of NG was then considered. Endocervical, vaginal and urethral secretions were collected from the mother and yielded isolation of endocervical beta-lactamase producing NG. Hygiene measures and contact isolation were recommended and the mother underwent treatment with ceftriaxone single dose 1G. During follow-up the child developed corneal opacity in her right eye.

Conclusion:

In prepuberal children presenting with unusual but compatible clinical manifestations, STIs should always be considered and investigated to enable prompt treatment and avoid sequelae. If gonococcal infection is diagnosed, the possibility of sexual violence should be thoroughly investigated, preferably in a comprehensive multidisciplinary approach to rule out non-sexual contamination and avoid emotional damage to the child and family. Clearly defining SV and proposing proper interventions in these circumstances is, however, challenging for healthcare providers.
As infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) são um problema de saúde pública global e com frequência deixam sequelas se não diagnosticadas e tratadas adequadamente. A infecção por Neisseria gonorrhoeae (NG) é uma das ISTs mais prevalentes em todo o mundo e, recentemente, tem apresentado crescentes taxas de incidência, além de resistência a antimicrobianos. Após o período neonatal, a infecção por NG na infância pode ser uma evidência de violência sexual (VS), no entanto a comprovação da violência é um desafio na prática clínica.

Objetivo:

Apresentar um caso de conjuntivite por NG em uma menina pré-púbere e discutir as possíveis vias de contaminação e implicações médicas forenses.

Relato de caso:

Trata-se de uma criança caucasiana de 7 anos de idade do sexo feminino, estudante, procedente de São Paulo, que, após uma internação, foi encaminhada ao Núcleo de Atendimento a Vítimas de Violência Sexual (NAVIS) para investigação de violência sexual, em setembro de 2013. Na admissão intra-hospitalar, houve relato de hiperemia ocular direita, iniciada havia 10 dias, sem resposta ao tratamento com colírio de tobramicina.

Antecedentes pessoais:

nada digno de nota. Ela morava com a mãe e a avó e visitava o pai a cada duas semanas. Os exames físico e ginecológico foram normais.

Exame oftalmológico:

olho esquerdo — nada digno de nota. Olho direito — edema palpebral, hiperemia conjuntival com exsudato purulento e perfuração da córnea superior. A bacterioscopia de secreção conjuntival foi positiva para diplococos gram-negativos e a NG foi isolada em cultura. A paciente foi submetida a sutura cirúrgica de perfuração do olho direito e, enquanto internada, recebeu 1 g de ceftriaxona endovenoso por dia, por um período de 10 dias. Durante a investigação no ambulatório de NAVIS, a mãe negou qualquer episódio de VS ou mudança de comportamento escolar. Foi oferecida assistência psicológica e social à criança e à mãe por mais de seis meses, mas a VS não pôde ser caracterizada. A investigação de IST para o HIV, infecções por hepatite B e C e sífilis resultou negativa. Com base na literatura, a hipótese de transmissão não sexual acidental de NG intrafamiliar foi então considerada. As secreções genitais da mãe (endocervical, vaginal e uretral) foram coletadas e o isolamento endocervical da NG produtora por betalactamase foi positivo. Medidas de higiene e isolamento de contato foram recomendados, além ser prescrito o tratamento com ceftriaxona em dose única de 1 g para a mãe. Durante o acompanhamento, a criança desenvolveu opacidade corneana em seu olho direito.

Conclusão:

Em crianças pré-púberes que apresentam manifestações clínicas incomuns, as ISTs devem sempre ser consideradas e investigadas para permitir o tratamento imediato e assim evitar sequelas. Se uma infecção gonocócica for diagnosticada, a possibilidade de (VS) deve ser minuciosamente investigada, de preferência com uma abordagem multidisciplinar abrangente para descartar a contaminação não sexual e evitar danos emocionais à criança e à sua família. Definir com precisão se houve VS e propor intervenções adequadas nessas circunstâncias mostra-se um desafio para os profissionais de saúde.

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