Guerra civil não-declarada? Um recorte do status da violência urbana em uma capital no Brasil
Undeclared civil war? Urban violence in major city in Brazil

Rev. Col. Bras. Cir; 47 (), 2020
Publication year: 2020

RESUMO Objetivo:

a violência civil é responsável por 2,5% da mortalidade mundial, matou mais pessoas no século XXI do que o somatório de todas as guerras deste período. Este estudo descreve as vítimas de violência admitidas em um hospital de referência em trauma em Salvador - Bahia, Brasil e analisa o impacto dos diferentes tipos de violência interpessoal.

Métodos:

foram incluídos vítimas de violência interpessoal admitidas entre julho de 2015 e julho de 2017. 1296 pacientes (média de idade foi 30,3 anos, 90% do sexo masculino) foram divididos em três grupos de acordo com o mecanismo de violência interpessoal: espancamento, ferimentos por projétil de arma de fogo (FPAF), ferimentos por arma branca (FAB).

Os grupos foram comparados de acordo com as seguintes variáveis:

idade, sexo, mecanismo de trauma, Revised Trauma Score (RTS) na admissão, necessidade de internamento em unidade de tratamento intensivo (UTI), tempo de internamento, necessidade de transfusão de hemocomponentes e morte.

Resultados:

FPAF foram o principal mecanismo de injúria (59%), seguido por agressão (24%) e FAB (17%). As vítimas de FPAF apresentaram a menor média de RTS na admissão, maior necessidade de uso de hemocomponentes e de internamento em UTI. Vítimas de espancamento tiveram a maior média de duração de internação hospitalar (11,6±19,6 dias). Os FPAF causaram 77,4% das mortes.

Conclusão:

vítimas de FPAF são mais críticas, requerendo maior tempo de tratamento em UTI, mais hemocomponentes e maior mortalidade comparativamente às vítimas de FAB e espancamento.

ABSTRACT Purpose:

Civil violence is responsible for 2.5% of deaths worldwide; it killed more people in the 21st century than the sum of all wars. This study describes violence victims treated at a trauma reference hospital in Salvador, Brazil and analyzes the impact of different types of interpersonal violence.

Methods:

Interpersonal violence victims admitted between July 2015 and July 2017 were included. The 1,296 patients (mean age: 30.3 years; 90% male) were divided into three groups according to the mechanism of interpersonal violence: 1) beating, 2) firearm injury and 3) stab wound (STW) injury.

The groups were compared for the following variables:

age, gender, trauma mechanism, Revised Trauma Score (RTS) at admission, need for intensive care unit (ICU) attention, length of hospital stay, need for transfusion of blood products and death.

Results:

Gunshot wounds (GSW) were the primary mechanism of injury (59%), followed by beating (24%) and STW (17%). Gunshot wound victims had a lower mean RTS upon admission, increased need for blood products and more Intensive Care Unit (ICU) admissions. Beating victims had the longest mean hospital stay (11.6 ± 19.6 days). The GSW group accounted for 77.4% of all deaths. The in-hospital mortality rate was significantly higher in the GSW group (12.7%) than in the beating group (5.4%) and in the STW group (4.9%).

Conclusions:

Gunshot wound victims are more critical: they require longer ICU stays, more transfusions of blood products and exhibit increased mortality compared with STW and beating victims.

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