Mulheres guerreiras e mães especiais? Reflexões sobre gênero, cuidado e maternidades no contexto de pós-epidemia de zika no Brasil
Strong women and special mothers? Reflections on gender, care and motherhood in the context of post-zika epidemic in Brazil
Physis (Rio J.); 30 (4), 2020
Publication year: 2020
Resumo O objetivo deste ensaio é ampliar o debate acerca das maternidades e do cuidado promovido por mulheres-mães de crianças com a síndrome congênita da zika (SCZ), no contexto atual de pós-epidemia no Brasil, através de uma análise teórica e política, mediada pelo diálogo com a literatura científica na área das Ciências Sociais e Humanas. A partir de um enfoque interseccional, que considera vulnerabilidades e desigualdades sociais, raciais e de gênero, discute-se como essas relações influenciam na organização do cuidado e na construção da maternidade dessas mulheres. Constatamos que as mulheres são as principais cuidadoras da criança, resultado de uma ideologia de maternidade, situada na divisão sexual e social do trabalho no âmbito de uma sociedade capitalista, que impõe responsabilidades e deveres diferentes para mulheres e homens no cuidado e no cuidar, reforçando opressões e explorações. No contexto da infecção congênita, da precarização da vida e do desmantelamento de políticas públicas, há uma sobrecarga de responsabilidades sobre as mães-guerreiras-especiais que podem comprometer seu bem-estar físico e mental, que tanto agrava a situação de desproteção social em que essas mulheres se encontram quanto as impulsionam em busca de coletivos que as fortaleçam como sujeitos políticos e de direitos.
Abstract This essay aims to expand the debate about maternity and care provided by women-mothers of children with congenital Zika syndrome (SCZ), in the current post-epidemic context in Brazil, through a theoretical and political analysis, mediated through dialogue with scientific literature in the area of Social and Human Sciences. From an intersectional approach, which considers social, racial and gender vulnerabilities and inequalities, it discusses how these relationships influence the organization of care and the construction of motherhood for these women. We note that women are the main caregivers of the child, the result of an ideology of motherhood, situated in the sexual and social division of labor within a capitalist society, which imposes different responsibilities and duties for women and men in caring, reinforcing oppression and exploitation. In the context of congenital infection, the precariousness of life and the dismantling of public policies, there is an overload of responsibilities on special warrior-mothers who can compromise their physical and mental well-being, which so much aggravates the situation of social unprotection in which these women meet when they push them in search of collectives that strengthen them as political and rights subjects.