Usuários em sofrimento difuso em centros de práticas integrativas e complementares
Users in diffuse suffering in centers of integrative and complementary practices

; (), 2021
Publication year: 2021

Nas instituições de saúde a oferta e a demanda têm sido organizadas, ao longo de anos, por uma lógica biomédica. A ênfase é dada à doença e, muitas vezes, o tratamento descaracteriza e despersonaliza o indivíduo, o que dificulta a construção do projeto terapêutico singular. Este modelo, fundamentado prioritariamente na utilização intensiva da tecnologia, na prática hospitalar e na incorporação profissional centrada nas especialidades médicas, é financeiramente insustentável (ACHUTTI & AZAMBUJA, 2004). É fundamental uma mudança de orientação de um modelo tradicional baseado em uma abordagem focada na doença para uma inovação no modelo de cuidado (SOUSA, 2013). Um novo paradigma de concepção e organização de cuidados em saúde. Os desafios das próximas décadas do século XXI implicam a preparação de equipes e de profissionais equipados com os meios técnicos e um modelo organizacional capaz de responder às necessidades de saúde da população, apoiadas em normas de orientação clínica, com interesse para o usuário/paciente. As Práticas Integrativas e Complementares (PICS) são identificadas como alternativa ao modelo biomédico, medicalizante e hospitalocêntrico. Uma das características das PICS é a singularidade na terapêutica, direcionada ao doente e não à doença, o que pode vir a contribuir com resultados mais satisfatórios (PINHEIRO e LUZ, 2003). Apesar de terem sido instituídas nacionalmente como política há dez anos, a partir da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares – Portaria GM/MS 971/2006, as PICS já faziam parte do cotidiano de muitos serviços de saúde pública (JUSTO, 2007; BRASIL, 2006; SOUSA, VIEIRA, 2004). É possível perceber um movimento de profissionais e usuários do sistema pela busca de outros modos e outras possibilidades para o cuidado em Saúde. Entre as PICS instituídas no SUS, destacam-se a Homeopatia, a Acupuntura, a Fitoterapia, a Medicina Antroposófica e várias práticas corporais advindas de diferentes Racionalidades Médicas (Lian Gong, Yoga, Tai Chi Chuan). A busca e a expansão dessas medicinas/práticas integrativas podem estar associadas a vários fatores, como já mencionado, mas, sobretudo, à crise no modelo de atenção à saúde (FERREIRA e LUZ, 2007; QUEIROZ, 2000). O desvio que ocorre na prática clínica, onde o foco é o diagnóstico e a cura da doença, que obscurece a relação cuidador-usuário, coloca em segundo plano a terapêutica em favor do diagnóstico e submete os profissionais de saúde ao objetivismo excessivo, não permitindo outras interpretações, de construção das doenças (TESSER e LUZ, 2002).

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