Homens e masculinidades e o novo coronavírus: compartilhando questões de gênero na primeira fase da pandemia
Men, masculinity and the new coronavirus: sharing gender issues in the first phase of the pandemic
Ciênc. Saúde Colet; 26 (1), 2021
Publication year: 2021
Resumo Este artigo opinião apresenta reflexões sobre masculinidades e construções de gênero - a partir do fenômeno global da pandemia do novo coronavírus -, produzidas por pesquisadores/as que integram a equipe nacional de uma pesquisa sobre política de atenção integral aos homens na saúde, no Brasil. A partir de leituras baseadas em gênero, o artigo argumenta que é preciso atentarmos que a socialização masculina cisheteronormativa se orienta a partir de três eixos: 1) a abjeção às práticas de cuidado de si e dos outros; 2) a rejeição às práticas preventivas em saúde, dada uma distorcida matriz de percepção de risco (e certo sentimento de "invulnerabilidade"); 3) a dinâmica doméstica marcada por posições de comando, ordenamento e honra. Essas dimensões da vida cotidiana foram profundamente provocadas nesta primeira fase da epidemia, em que o confinamento se tornou a alterativa mais recomendável. Esses eixos se configuram como repertórios recorrentes (embora não recentes) que reificam o modelo central de uma ordem masculina que precisa se tornar objeto de reflexão, na medida em que colocam em risco a saúde de homens e mulheres e mais amplamente dos pactos civilizatórios e da ordem social.
Abstract This article presents reflections on masculinity and the social construction of gender - based on the global phenomenon of the new coronavirus pandemic - produced by researchers who are part of the national research team on comprehensive health care policy for men in Brazil. From a gender-based standpoint, the article contends that it is necessary to note that cis heteronormative male socialization is guided by three core issues: 1) the submission to practices of care of self and others; 2) the rejection of preventive health practices, due to a distorted matrix of risk perception (and a certain sense of "invulnerability"); 3) the domestic dynamics marked by postures of command, order, and honor. These dimensions of everyday life were profoundly upset in this first phase of the epidemic, in which confinement became the most recommended alternative. These issues are configured as recurring (though not recent) repertoires that glorify the central model of a male order that needs to become an object of reflection, insofar as they endanger the health of men and women and, more broadly, of the status quo of the accepted tenets of domestic and social order.