Conversas invisíveis: assuntos falados, mas não ouvidos em consultas ginecológicas
Invisible conversations: subjects spoken but unheard in gynecological visits
Ciênc. Saúde Colet; 26 (1), 2021
Publication year: 2021
Resumo Estudo qualitativo baseado nos pressupostos teórico-metodológicos da Análise da Conversa (AC) que descreve e analisa interações face a face entre três enfermeiras e sete usuárias de serviços de atenção primária em saúde, ocorridas durante consultas para coleta do exame citopatológico. As descrições e as análises pautaram-se nos excertos das interações gravadas em áudio durante as consultas de enfermagem e transcritas com base nas convenções da AC. A análise micro dos dados realizada a partir da perspectiva êmica permitiu identificar situações interacionais de (des)alinhamento, (des)filiação, reparos e temas delicados, além da ausência de escuta de tópicos específicos por parte das enfermeiras ao conduzirem as consultas. Assim, sinalizações de situações de sofrimento, mal-estar ou violências não foram exploradas, deixando de potencializar o cuidado. O estudo demonstra que a consulta para coleta de exame CP pode ser um espaço para ouvir questões relacionadas à sexualidade e investigar a presença de violência contra a mulher. A divulgação destes achados e desta metodologia junto aos profissionais de saúde coletiva e de enfermagem pode estimular a reflexão dos mesmos sobre suas habilidades comunicativas, contribuindo para melhorar a qualidade da atenção nos serviços de saúde.
Abstract This is a qualitative study based on the theoretical-methodological assumptions of the Conversation Analysis (CA) that describes and analyzes face-to-face interactions between three nurses and seven users of primary health care services during the cytopathological test collection visits. The descriptions and analyses were based on excerpts from the audio-recorded interactions during the nursing visits and transcribed based on the CA conventions. Data microanalysis from an emic perspective allowed identifying interactional situations of (mis)alignment, (dis)affiliation, repairs, and sensitive issues, and lack of listening to specific topics by nurses while conducting visits. Thus, signs of suffering, malaise, or violence were not explored, and care was not enhanced. The study shows that the cytopathological test collection visit can be a space to listen to issues related to sexuality and investigate the presence of violence against women. The dissemination of these findings and this methodology among public health and nursing professionals may stimulate a reflection on their communicative abilities, contributing to improved quality of care in health services.