Corpo, cultura e subjetividade: uma abordagem psicológica da normatividade branca
Body, culture and subjectivity: a psychological approach on white normativity
Cuerpo, cultura y subjetividad: enfoque psicológico sobre la normatividad blanca
Psicol. ciênc. prof; 40 (spe), 2020
Publication year: 2020
Resumo O presente trabalho tem como objetivo contribuir teoricamente para uma abordagem psicológica das relações raciais. Com base em contribuições das psicologias social e cultural, da sociologia e dos estudos culturais e pós-coloniais pautadas no construcionismo social, este ensaio apresenta uma discussão sobre as relações entre corpo, cultura e subjetividade. Além disso, aborda as maneiras pelas quais essas três dimensões da existência humana são mutuamente construídas, assim como as relações de poder que permeiam tais construções em contextos pós-coloniais. Mais especificamente, utilizamos o corpo humano como ponto de partida para tecer reflexões teóricas acerca dos processos de subjetivação de sujeitos racializados, propondo um movimento de desnaturalização daquilo que nos estudos críticos sobre raça é chamado de "normatividade branca". A discussão apresentada girou em torno da hipótese de que pessoas que compartilham de um conjunto de pressupostos socioculturais construídos a partir de experiências comuns, como corpos racializados, costumam reproduzir formas de ser, estar e atuar no mundo consistentes com tais pressupostos. Essas formas de ser, estar e atuar, por suas vezes, funcionam como mecanismos de promoção e manutenção de conjuntos particulares de expressões psicológicas. Por fim, consideramos que reconhecer a dimensão subjetiva da existência humana como processos culturalmente situados, assim como a impossibilidade de dissociarmos tais processos dos lugares sociais que ocupamos em virtude dos marcadores sociais personificados por nossos corpos, é reconhecer que sociedades racializadas produzem não apenas corpos racializados mas também subjetividades racializadas.
Abstract This paper provides theoretical contributions to a psychological approach to race relations. Based on social and cultural psychology, sociology, and postcolonial and cultural studies, and adopting a social constructionist perspective, this article discusses the association between body, culture, and subjectivity. It looks at the ways these three dimensions of human existence are mutually constructed, as well as the power dynamics shaping these constructions in postcolonial contexts. More specifically, we use the human body as a starting point to develop theoretical reflections about the subjective processes experienced by racialized bodies, proposing a denaturalization movement regarding the phenomenon of "white normativity", as is called in critical studies on race. The discussion revolves around the hypothesis that people who share a set of socio-cultural assumptions built as a result of their common experiences as racialized bodies often reproduce ways of being and acting in the world that are consistent with such assumptions. These forms of being and acting in the world, in turn, function as mechanisms to promote and maintain particular sets of psychological expressions. Lastly, we conclude that recognizing the subjective dimension of our existence as culturally situated processes (as well as the impossibility of decoupling such processes from the social space we occupy by virtue of the social markers embodied by our bodies) means to acknowledge that racialized societies produce not only racialized bodies, but also racialized subjectivities.
Resumen Este texto tuvo como objetivo contribuir teóricamente con un enfoque psicológico sobre las relaciones raciales. Con base en los aportes de las psicologías social y cultural, de la sociología, de los estudios culturales y poscoloniales, este ensayo presenta una discusión sobre las relaciones entre cuerpo, cultura y subjetividad. Además, aborda las maneras por las cuales esas tres dimensiones de la existencia humana son mutuamente construidas, así como las relaciones de poder que permean tales construcciones en contextos poscoloniales. Específicamente, utilizamos el cuerpo humano como punto de partida para tejer reflexiones teóricas acerca de los procesos de subjetivación de sujetos racializados, proponiendo un movimiento de desnaturalización de aquello que, en los estudios críticos sobre raza, llamamos de "normatividad blanca". La discusión presentada plantea la hipótesis de que las personas comparten un conjunto de presupuestos socioculturales, construidos en experiencias comunes como cuerpos racializados, que reproducen formas de ser, estar y actuar en el mundo y que son consistentes con tales presupuestos. Esas formas de ser, estar y actuar funcionan como mecanismos de promoción y mantenimiento de conjuntos particulares de expresiones psicológicas. Finalmente, consideramos que reconocer la dimensión subjetiva de la existencia humana como procesos culturalmente situados, así como la imposibilidad de disociarnos tales procesos del lugar social que ocupamos en virtud de los marcadores sociales personificados por nuestros cuerpos, es reconocer que sociedades racializadas producen no solo cuerpos racializados, sino también subjetividades racializadas.