Percepção de Preconceito num Quilombo Urbano do Sul do Brasil
Perception of Discrimination in an Urban Quilombo in the South Region of Brazil
Percepción de Discriminación en un Quilombo Urbano en el Sur de Brasil
Psicol. ciênc. prof; 40 (), 2020
Publication year: 2020
O negro, e por consequência as populações quilombolas, em uma sociedade racista e preconceituosa, participa de um processo de (re)construção identitária que passa, necessariamente, por questões culturais, históricas, de território e de parentesco. Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi conhecer a percepção de moradores de um quilombo sobre o preconceito racial vivenciado por eles. Para isso, realizou-se uma pesquisa qualitativa, descritiva e exploratória, tendo como participantes seis residentes em posições de liderança num quilombo urbano: duas adolescentes, dois adultos e duas idosas. Foram feitas entrevistas com perguntas semiestruturadas, abordando história de vida e percepção sobre discriminação racial. Os dados foram gravados e filmados, para, posteriormente, serem transcritos. Para a análise, utilizou-se a Análise de Conteúdo Temática. Os principais resultados apontaram diferenças significativas entre a percepção de adolescentes, por um lado, e adultos e idosos, por outro. Os adultos e as idosas indicaram não se sentirem discriminados por serem negros e moradores de quilombo, ao contrário das adolescentes, que referiram
sofrer bullying por esses motivos na escola e em ambientes públicos como shoppings e comércios em geral. As idosas relataram sentir-se discriminadas em função da idade, mas nunca pela sua negritude ou pelo local onde moram. Entende-se que esta percepção tão diferente entre jovens, adultos e idosos deva-se, principalmente, ao nível de escolaridade mais elevado das adolescentes e, consequentemente, à sua maior capacidade reflexiva. Esta lhes permite perceber por si mesmas aquilo que não lhes foi dito no grupo familiar e que lhes foi ocultado nos debates escolares....(AU)
Black people in a racist and discriminating society, specifically the quilombola population, undergo an identity (re)construction process which certainly includes cultural, historical, territorial and kinship issues. This study verified the perception of quilombo dwellers regarding the racial discrimination they go through. A qualitative, descriptive, exploratory research was conducted with six residents in leadership positions in an urban quilombo: two teenage girls, two adults in their fourties and two older women. They answered a semistructured interview about their life stories and their perception of racial discrimination. The data were recorded, filmed, and later transcripted. Afterwards, they were analyzed according to Thematic Content Analysis. The main results pointed out significant differences in the way teenagers perceive racial discrimination compared to adults and older adults. These claimed not having been through situations in which they were discriminated because of their color or for living in a quilombo. On the other hand, the teenagers reported having gone through bullying at school and public places, like malls and retail places in general. The older women said they felt discriminated because of their age, but never because of their color or the place where they live. It is assumed that these big differences in perception are mainly due to the higher educational level of teenagers and, consequently, to their higher reflection ability. This ability enables them to perceive for themselves facts and realities that their familiar group never mentioned and that debates at school have always hidden from them....(AU)
El negro, en consecuencia, la población quilombola, en una sociedad racista e intolerante participa en un proceso de (re)construcción identitaria que pasa, necesariamente, por cuestiones culturales, históricas, territoriales y de parentesco. El objetivo de este estudio fueconocer la percepción de los moradores de un quilombo sobre la discriminación racial vivida por ellos. Para eso, se realizó una investigación cualitativa, descriptiva y exploratoria, en la cual participaron seis residentes en posición de liderazgo en un quilombo urbano: dos adolescentes, dos adultos y dos ancianas. Se realizaron entrevistas con preguntas semiestructuradas,abordando la historia de vida y percepción sobre discriminación racial. Los datos fueron grabados y filmados, y posteriormente fueron transcritos. Para el análisis, se utilizó el análisis de contenido temático. Los principales resultados apuntaron diferencias significativas entre la percepción de adolescentes, por un lado, y de adultos y ancianos, por otro. Los adultos y las ancianas refirieron no sentirse discriminados por ser negros y moradores de quilombo, a diferencia de las adolescentes, que refirieron sufrir acoso escolar y en los entornos públicos como centros comerciales y comercio en general. Las ancianas refirieron sentirse discriminadas en función de la edad, pero nunca por su negritud o por el lugar donde viven. Se entiende que esa percepción tan diferente entre jóvenes y adultos y ancianos se debe principalmente al nivel de escolaridad más elevado de las adolescentes y, consecuentemente, a su mayor capacidad reflexiva. Esta les permite percibir por sí mismas lo que no les fue dicho en el grupo familiar y que les fue ocultado en los debates escolares....(AU)