Avaliação Ecocardiográfica de Pacientes com Forame Oval Patente e Acidente Vascular Cerebral Criptogênico
Echocardiographic Evaluation of Patients with Patent Foramen Ovale and Cryptogenic Stroke
ABC., imagem cardiovasc; 34 (1), 2021
Publication year: 2021
Recentes estudos indicaram que o forame oval patente (FOP)
pode ser responsável pelo acidente vascular cerebral criptogênico
(AVC) em pacientes jovens que apresentam condições anatômicas
favoráveis a essa anomalia e que a oclusão transcateter reduz a
incidência do acidente vascular cerebral quando comparada
ao tratamento clínico. A injeção de soro agitado durante o
estudo ecocardiográfico, associada à manobra de Valsalva, pode
evidenciar shunt direita-esquerda com alta sensibilidade (89%)
e especificidade (92%) quando se utiliza o ecocardiograma
transesofágico. Avaliando as características clínicas de pacientes
com acidente vascular cerebral e forame oval patente, o trial
Risk of Paradoxical Embolism, conhecido pela sigla RoPE, (Risk
of Paradoxical Embolism) estabeleceu um escore de risco para
acidente vascular cerebral criptogênico e, por meio de um
modelo de regressão multivariada, identificou seis variáveis:
idade, presença de isquemia cortical, diabetes, hipertensão, AVC
e acidente isquêmico transitório prévio. Os escores mais elevados
foram observados em jovens com AVC e sem fatores de risco
vascular e os escores mais baixos em idosos com fatores de risco
vascular, de modo que o forame oval patente sugere ser acidental.
Condições anatômicas do FOP predispõem à embolia sistêmica
(separação do FOP > 2 mm; túnel do FOP > 10 mm; ângulo
entre a veia cava inferior e o flap do FOP <10°; intensidade
do shunt com manobra de Valsalva; presença de aneurisma
do septo interatrial e rede de Chiari ou válvula de Eustáquio
proeminente). O fechamento do FOP pode prevenir a embolia
paradoxal, reduzindo a incidência de acidente vascular cerebral
em pacientes considerados com de risco elevado.
A relação entre Acidente Vascular Cerebral (AVC)
criptogênico e a presença de Forame Oval Patente (FOP) tem
despertado particular interesse, baseada em estudos recentes
que demonstraram que a oclusão transcateter do FOP reduziu
a incidência de AVC criptogênico, quando comparado ao
tratamento medicamentoso.1
Trombos atravessando o forame oval podem ser
observados em exames ecocardiográficos e em autópsias,
confirmando esse mecanismo como responsável pela
embolia paradoxal, ou seja, um trombo venoso passando
para a circulação arterial por um shunt direita-esquerda.
Entretanto, essa visualização ecocardiográfica é rara e
existem poucos estudos publicados2,3 (Figura 1).
Alguns estudos clínicos demonstram a propensão do FOP
ser o responsável pela embolia paradoxal. Pacientes portadores
de diabetes, hipertensão arterial sistêmica e doença arterial
coronária têm baixa prevalência para o FOP ser o responsável
pela embolia paradoxal. Por outro lado, história de trombose
venosa profunda, embolia pulmonar, hipertensão pulmonar,
viagens prolongadas, manobra de Valsalva precedendo o
início de sintomas de AVC, enxaqueca e apneia do sono tem
sido descrita como fatores de risco independentes para a
associação entre FOP e eventos cerebrovasculares.4
Mesmo sendo pouco frequente a visualização de trombos
em forame oval, a observação epidemiológica nos leva
a acreditar que o FOP é o responsável por um número
considerável de acidentes vasculares cerebrais.5
A prevalência de FOP em um estudo com autópsia em 965
corações normais é de 27%, com similar distribuição entre
homens e mulheres. Essa prevalência declina com a idade, sendo
de 34% em menores de 30 anos, 25% entre 30 e 80 anos e 20%
em maiores de 80 anos.6
Em pacientes com AVC criptogênico,
entretanto, a prevalência é particularmente elevada, chegando
a 40% em pacientes com idade inferior a 55 anos.7
É importante ressaltar que a presença de FOP em
pacientes com AVC criptogênico não é a única etiologia
para o embolismo paradoxal. Outros mecanismos podem
ser responsáveis, como fibrilação atrial não detectada,
tumores cardíacos (mixoma e fibroeslastomas), presença de
contraste ecocardiográfico espontâneo em átrio esquerdo,
valvopatia mitral reumática, calcificação do anel valvar
mitral, próteses cardíacas biológicas e mecânicas, estados de
hipercoagulabilidade e ateroma de aorta ascendente.8
O estudo ecocardiográfico é parte da rotina na avaliação
do FOP, principalmente o Ecocardiograma Transesofágico
(ETE) com utilização de solução salina agitada (macrobolhas).
Considera-se um shunt pequeno quando passam de três a
dez bolhas, médio de dez a 30 bolhas e grande se mais de
30 bolhas contadas nos primeiros batimentos após a injeção.9
Além da detecção do shunt, o ETE avalia as características
anatômicas do FOP, assim como o diagnóstico diferencial
com a comunicação interatrial e com o shunt pulmonar.10,11
Trabalhos comparando o ETE utilizando macrobolhas com os
achados de autópsia mostram sensibilidade de 89% e especificidade
de 92%, sendo que a autópsia é considerada padrão-ouro.12(AU)