Quando o trabalho exige lidar com a morte: o caso dos necrotomistas
When work requires dealing with death: the case of necrotomists

Gerais (Univ. Fed. Juiz Fora); 14 (2), 2021
Publication year: 2021

O presente artigo objetivou conhecer quais estratégias defensivas os necrotomistas desenvolvem para lidar com a morte em sua atividade profissional exercida no contexto do Departamento de Medicina Legal (DML), uma organização que tem a morte como fator disparador do processo de trabalho. Adotou-se como abordagem principal a Psicodinâmica do Trabalho, aliada ao conceito de trabalho sujo. Metodologicamente, combinaram-se entrevistas semiestruturadas individuais e observações da atividade na sala de necropsias. Participaram do estudo os seis necrotomistas do DML de uma capital do Nordeste brasileiro.

Os resultados indicaram as seguintes estratégias defensivas:

coisificação dos cadáveres, uso de brincadeiras, valorização do sentimento religioso e tentativa de neutralizar interações entre os espaços privados e os de trabalho. Constatou-se que a experiência profissional ameniza o impacto das imagens, odores e contato manual com os cadáveres. Evidenciou-se, também, que a convivência com a morte parece induzir mudanças de perspectiva positiva em relação à vida pessoal.
This article aimed to know which defensive strategies the necrotomists develop to deal with death in their professional activity performed in the context of the Department of Legal Medicine (DML), an organization that has death as a triggering factor of the work process. The main approach was the Psychodynamics of Work, allied to the concept of dirty work. Methodologically, individual semi-structured interviews and observations of the activity in the necropsy room were combined. The six necrotomists of the DML from a Brazilian Northeast capital participated in the study.

The results indicated the following defensive strategies:

objectification of corpses, use of jokes, appreciation of religious feeling and attempt to neutralize interactions between private and working spaces. It was found that professional experience mitigates the impact of images, odors and manual contact with the corpses. It was also evident that the living with death seems to induce positive perspective changes in relation to personal life.

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