A escrita da história e do luto nas catástrofes coletivas
The writing of history and mouning in colletive disasters
La escritura de la historia y del luto en desastres colectivos

Estud. Interdiscip. Psicol; 11 (3,Supl 1), 2020
Publication year: 2020

O presente artigo objetiva explorar, a partir das questões levantadas pela pandemia do Covid-19, a tensão e a pluralidade de sentidos que o conceito de desmentido assume no âmbito da psicanálise, considerando-se as acepções de Freud e Ferenczi. Busca-se uma articulação entre as contribuições desses dois autores para estabelecer daí uma descrição das consequências de uma política negacionista que perpetua e agrava as vulnerabilidades e o sofrimento da população mais desfavorecida, sobretudo em situações de catástrofes coletivas, como a atual. Criam-se daí obstáculos ao trabalho de simbolização e elaboração de lutos, limitando consideravelmente as possibilidades de construção de uma resposta política solidária, ampla, efetiva e duradoura. Problematiza-se então a relação entre a escrita da História e a dimensão coletiva do luto. Propõe-se, a partir de Freud e Ginzburg, a valorização da melancolia e da vergonha como estratégia de resistência discursiva a uma política negacionista alicerçada no desmentido (AU).
This article explores, based on the issues raised by the Covid-19 pandemic, the tension and the plurality of meanings that the concept of denial assumes in the scope of psychoanalysis. An articulation between the contributions of Freud and Ferenczi is sought to establish a description of the consequences of a negationist policy that perpetuates and exacerbates the vulnerabilities and suffering of the most disadvantaged population, especially in situations of collective catastrophes, such as the current one. This creates obstacles to the work of symbolizing and elaborating mourning, considerably limiting the possibilities of building a solidary, broad, effective and lasting political response. Then, the relationship between the writing of history and the collective dimension of mourning is questioned. It is proposed, from Freud and Ginzburg, the valorization of melancholy and shame as a strategy of discursive resistance to a negationist policy based on denial (AU).
Este artículo explora, en base a los problemas planteados por la pandemia de Covid-19, la tensión y la pluralidad de significados que el concepto de negación asume en el ámbito del psicoanálisis. Se busca una articulación entre las contribuciones de Freud y Ferenczi sobre este tema para establecer una descripción de las consecuencias de una política negacionista que perpetúa y exacerba las vulnerabilidades y el sufrimiento de la población más desfavorecida, especialmente en situaciones de catástrofes colectivas, como la actual. A partir de esto, se crean obstáculos para el trabajo de simbolizar y elaborar el duelo, lo que limita considerablemente las posibilidades de construir una respuesta política solidaria, amplia, efectiva y duradera. Luego, se cuestiona la relación entre la escritura de la historia y la dimensión colectiva del duelo. Se propone entonces la valorización de la melancolía y la vergüenza como estrategia de resistencia discursiva a una política negacionista (AU).

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