Cad. Saúde Pública (Online); 37 (12), 2021
Publication year: 2021
Resumo:
O artigo tem por objetivo provocar uma discussão sobre o uso acrítico da expressão "determinação social de saúde" e demonstrar a impropriedade desse conceito para representar a complexidade do fenômeno e das situações de saúde/doença e todas as questões que envolvem o campo da Saúde Coletiva, frente ao contexto das profundas mudanças da sociedade pós-industrial. O texto assim se organiza:
apresenta o percurso da adoção do termo e a vasta produção científica que o utiliza na América Latina, inclusive no Brasil; descreve o determinismo como conceito histórico nascido da Física e da Biologia com reflexos sobre as Ciências Sociais e Humanas; e ressalta o conhecimento sociológico contemporâneo sobre determinação e liberdade, fazendo a crítica do conceito em foco. O texto ressalta a necessidade da área de Saúde Coletiva rever alguns de seus conceitos baseados no modelo de pensamento da sociedade industrial sobre os quais se assentou. E conclui que:
determinação social, não! Aceitar que as coisas sejam determinadas significa desdenhar o poder da natureza, a criatividade e a autonomia do indivíduo e da sociedade para agir, desconhecendo a experiência milenar de que tudo o que é historicamente construído pode ser desconstruído pela ação humana e pela aleatoriedade do real. Portanto, qualquer trabalho de cunho libertário precisa levar em consideração, dentro das condições dadas, as forças pessoais, comunitárias, sociais e auto-organizadoras que interagem para a preservação do ambiente e da saúde dos indivíduos e da coletividade.
Abstract:
The article aims to provoke a discussion on the acritical use of the expression "social determination of health" and demonstrate the concept's impropriety for representing the phenomenon's complexity and the health/disease situations and all the questions involving the Collective Health field given the context of profound changes in postindustrial society. The article is organized as follows:
the history of the term's adoption and the vast scientific production that uses it in Latin America, including in Brazil; a description of determinism as a historical concept originating in Physics and Biology with reflections in the Social and Human Sciences; and a focus on contemporary sociological knowledge on determination and freedom, performing a critique of the concept. The article emphasizes the need for the Collective Health field to review some of its concepts based on the model of thinking in industrial society on which it was based. And it concludes:
social determination, no! To accept that things are determined means to disdain the power of nature and the creativity and autonomy of the individual and society to act, ignoring the centuries-old experience that everything which is historically constructed can be deconstructed by human action and by reality's randomness. Thus, any kind of libertarian work needs to take into consideration, among the given conditions, the personal, community, social, and self-organizing forces that interact for the preservation of the environment and individual and collective health.
Resumen:
El objetivo de este artículo es provocar una discusión sobre el uso acrítico de la expresión "determinación social de salud" y demostrar lo impropio de este concepto para representar la complejidad del fenómeno, así como las situaciones de salud/enfermedad, y todas las cuestiones que engloban el campo de la Salud Colectiva ante el contexto de profundos cambios de la sociedad posindustrial. El texto se organiza así:
presenta el recorrido de la adopción del término y la vasta producción científica que lo utiliza en Latinoamérica, incluso en Brasil; describe el determinismo como concepto histórico, nacido de la Física y Biología con reflejos sobre las Ciencias Sociales y Humanas; y resalta el conocimiento sociológico contemporáneo sobre la determinación y libertad, realizando una crítica del concepto en cuestión. El texto resalta la necesidad de que el área de Salud Colectiva revea algunos de sus conceptos basados en el modelo de pensamiento de la sociedad industrial sobre los cuales se asentó. Y concluye que:
determinación social, ¡no! Aceptar que las cosas estén determinadas significa menospreciar el poder de la naturaleza, creatividad y autonomía del individuo, así como de la sociedad para actuar, obviando la experiencia milenaria de que todo lo que está históricamente construido puede ser deconstruido por la acción humana y por la aleatoriedad de lo real. Por lo tanto, cualquier trabajo de cuño libertario necesita tener en consideración, dentro de unas determinadas condiciones, la fuerza individual, comunitaria, social y de autogestión que interactúan para la preservación del entorno, así como de la salud de los individuos y la colectividad.