Alimentação intuitiva na Atenção Primária: prática do nutricionista e percepção do usuário
Intuitive Eating in Primary Care: Nutritionist’s Practice And Patient’s Perception

Rev. APS; 22 (4), 2021
Publication year: 2021

O aumento de peso da população mundial tem levado a alterações no comportamento alimentar com o objetivo de reduzir a ingestão energética e consequentemente o peso. Porém, a restrição alimentar tem se mostrado não ser sustentável a longo prazo e ainda pode ser responsável pela falha das tentativas de emagrecimento. A alimentação intuitiva aparece como uma alternativa de modelo de alimentação que se relaciona ao bem-estar físico e mental e pode ser orientada por um nutricionista. O objetivo do estudo foi observar a percepção dos usuários a respeito dos atendimentos nutricionais na lógica da alimentação intuitiva. Trata- se de uma pesquisa qualitativa, realizada através da aplicação de um guia de atendimento na lógica da alimentação intuitiva e de aplicação de um roteiro de entrevista pré-estruturado com os participantes da pesquisa. O estudo foi realizado em cinco Unidades Básicas de Saúde de um município do sul do Brasil. O guia de atendimento foi aplicado em cinco consultas quinzenais. A análise de dados foi realizada através de análise de conteúdo temática categorial. Participaram deste estudo 17 usuários selecionados de acordo com os critérios de inclusão. Destes, 5 (29,4%) desistiram da pesquisa durante o período de coleta de dados e 3 foram retirados devido às faltas nas consultas (11,8%) e por não ter respondido sobre o motivo da desistência (5,9%). Para cada uma das respostas às perguntas do roteiro de entrevista pré-estruturado, foram identificadas de uma a cinco categorias. Sobre os motivos que levaram a pessoa a buscar o atendimento nutricional, foram identificadas as categorias “saúde”, “estética, emagrecimento ou insatisfação corporal” e “melhora da relação com a comida”. Em relação às expectativas sobre o atendimento, foram identificadas as categorias “informação nutricional”, “auxílio no emagrecimento” e “comer disfuncional”. Para as perguntas sobre o que o participante achou do atendimento nutricional e como descreveria a forma de atendimento foram identificadas as categorias “diferente do método tradicional”, “centrado na pessoa”, “surpresa por encontrar essa forma de atendimento no SUS” e “processo de autoconhecimento”. Sobre como a pessoa avalia o atendimento nutricional, foi identificada a categoria “expectativas superadas”. Em relação a como a pessoa se sentiu sendo atendida daquela forma, foram identificadas quatro categorias: “foco no emagrecimento”, “expectativa”, “centrada na pessoa” e “com melhoras na relação com o corpo e com a comida”. Para a pergunta como está a sua relação com a comida após o tratamento?, foram identificadas quatro categorias: “mentalidade de dieta”, “mudança de pensamento e atitude em relação a alimentação”, “autoconhecimento e consciência alimentar” e “esperança de melhorar”. Podemos concluir que a alimentação intuitiva está alinhada com a humanização proposta no SUS e ao método clínico centrado na pessoa, além de ter sido bem aceita pelos participantes da pesquisa, e que se coloca como ferramenta para a promoção da alimentação saudável na APS de uma forma abrangente e humanizada.
The weight gain of the world’s population has led to changes on feeding behavior to try to reduce energy intake and consequently weight. However, the food restriction is not sustainable in the long run and may still be responsible for the failure of attempts of weight loss. Intuitive eating appears as an alternative feeding model that relates to physical and mental well-being and which can be oriented by a nutritionist. The aim of the study was to observe the users' perception regarding nutritional care in the logic of intuitive eating. It is a qualitative research, carried out through the application of an intuitive eating guide and the application of a script of a pre-structured interview with the participants of the research. The study was carried out in five Basic Health Units of a city in southern Brazil. The guide was applied in 5 biweekly consultations. Data analysis was performed through analysis of categorical thematic content. Seventeen users were selected according to the inclusion criteria. From these, 5 (29.4%) dropped out of the survey during the data collection period, 2 (11.8%) were withdrawn due to lack of consultations and 1 (5.9%) was withdrawn because she didn’t give an answer about the reason for the discontinuation. For each of the answers to the pre-structured interview script questions, one to five categories were identified. Regarding the reasons that led the person to seek nutritional care, the categories "Health", “Aesthetics, weight loss or body dissatisfaction" and "Improvement of the relationship with food" were identified. Regarding the expectations on care, the categories "nutritional information", "aid in weight loss" and "dysfunctional eating" were identified. For the questions about what the participant thought about nutritional care and how he would describe the form of care, the categories "different from the traditional method", "patient-centered", "surprise for finding this form of care in the public health system" and "process of self-awareness”. About how the person evaluates the nutritional care was identified the category "surpassed expectations". Regarding how the person felt being treated in this way, four categories were identified: "focus on weight loss", "expectation", "patient-centered" and "improvements in the body and food relationship". For the question how is their relationship with food after treatment? Four categories were identified: "diet mentality", "changes of thoughts and attitudes in relation to food", "self-knowledge and food awareness" and "hope to improve". We can conclude that intuitive eating is lined up with the humanization proposed in the Unified Health System and the patient-centered clinical medicine, in addition to being well accepted by the participants of the research. Intuitive eating can be used as a tool to promote healthy eating in PHC in a more comprehensive and humanized way.

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