Identificação dos problemas de saúde entre pessoas privadas de liberdade

dos Santos, Andreia Beatriz Silva

Trata-se de um relato da experiência do processo de identificação de problemas de saúde entre um grupo de pessoas privadas de liberdade em uma unidade prisional localizada na cidade de Salvador, Bahia. Essa ação foi realizada pela médica e pela enfermeira da equipe de saúde da Penitenciária Lemos Brito e foi desenvolvida com base na proposta do Planejamento e Programação Local em Saúde (PPLS), aplicada em dois encontros realizados naquela unidade prisional. O primeiro encontro teve como objetivo aproximar o público da metodologia que seria empregada para a identificação de problemas de saúde, promovendo reflexões sobre o conceito de saúde e sua promoção, prevenção, tratamento e recuperação de agravos, e discutindo, também, a prática da atenção à saúde no território prisional. No segundo encontro, foi realizada a oficina para o levantamento dos problemas de saúde do território, em que foi utilizada a metodologia da oficina do Planejamento e Programação Local em Saúde (PPLS), proposta por Vilasboas1.

Os problemas apontados foram:

1) pouca quantidade e qualidade ruim da alimentação; 2) falta de saneamento básico: falta de água boa para beber e esgoto aberto; 3) falta de atendimento do dentista; 4) dificuldades para o atendimento noturno das emergências; 5) falta de tratamento: pouco atendimento médico e falta de medicação; 6) dificuldade de acesso ao serviço social; 7) falta de fisioterapia e realização de exames; 8) dificuldade de acesso à defensoria pública; 9) zika e micose (problemas de pele). Participaram da atividade 453 homens, em sua maioria negros, entre 18 e 54 anos. Esta prática permitiu a aproximação da equipe de saúde dos problemas de saúde identificados pela população prisional daquela unidade, identificação dos problemas de saúde naquele território, assim como apontou a necessidade de a equipe mobilizar e articular outras instâncias e atores para buscar as soluções para os problemas levantados.

This article presents health problems among a group of prisoners in the Lemos Brito Penitentiary (LBP) in Salvador, Bahia. The study was carried out by a doctor and a nurse who are part of the health team and was developed based on the recommendation of the Local Health Planning and Programming (PPLS), which was a the result of a workshop held in the Health Unit at LBP. The workshop was divided into two sessions. The first session provided an overview to the the prisoners to discuss our research endeavor – how we would identify health problems, stimulate reflections about health as a concept, and how to create policies and practices to promote health and well-being of prisoners through prevention, treatment, and recovery from diseases, in addition to discussing health care practices within the prison system. In the second session, we conducted a survey about health within the prison using the PPPLS methodology, as proposed by Vilasboas (2004).

The results of the survey identified 9 health concerns within the prison:

1) low quantity and poor quality of food; 2) lack of basic sanitation: lack of good drinking water and open sewage; 3) lack of dental care; 4) Difficulties to obtain emergency assistance at night; 5) Poor medical care and a limited access to medication; 6) Difficulty in accessing social services; 7) Lack of counseling and other psychosocial testing and treatment; 8) difficulty in accessing an attorney or a public defender 9) Zika - ringworm, and other skin problems. 453 black men between the ages of 18 and 54 participated in the workshop and survey. The results from the survey informed the health team to identify prevalent health concerns among the prisoners and to develop a holistic approach to address the problems they identified. In addition, these results demonstrated the need to mobilize the health team in order to make connections with other sectors to search and execute solutions to the problems raised by the prisoners.