Entrecruzamento de desigualdades: gênero e maternidade na carreira de médicas de família e comunidade
Intercrossing inequalities: gender and maternity in the career of family and community physicians
Rev. APS; 25 (Supl 1), 2022
Publication year: 2022
O estudo da crescente feminização da área da Medicina de Família e Comunidade coloca na agenda de estudiosos a preocupação com os fatores e impactos dessa tendência nas trajetórias das carreiras das médicas, principalmente daquelas que estão exercendo suasatividades em áreas periféricas. O objetivo do estudo do qual resulta este artigo foi compreender como as médicas justificam suas escolhas e permanências no exercício da Medicina de Família e Comunidade, mesmo em contextos considerados potencialmente violentos. Realizamos uma investigação de caráter qualitativo, que dialogou com aspectos da cartografia, a partir de entrevistas realizadas com oito médicas de família que se fixaram em áreas de alta vulnerabilidade social em uma capital brasileira. A análise dos enunciados apontou para o gênero como o eixo marcador de diferença, destacando o empuxo exercido pela maternidade, o conceito gênero em sua dinâmica interseccional. Identificamos que a responsabilização pelo cuidado permanece impactando o processo decisório das mulheres, (re)definindo o equilíbrio entre vida pessoal/familiar e trabalho e (de)limitando as trajetórias de suas carreiras.
The growing trend of feminization of family practice raises scholars' concerns about the factors and effects of this trend on the trajectories of female medical careers, particularly those working in outlying areas. The aim of the study, from which this article results, was to understand how medical women justify their choices and permanence in the family practice career while working in contexts considered potentially violent. We carried out a qualitative study with cartographic aspects, based on interviews with eightfamily doctors who are settled in areas of high social vulnerability in a large city in Brazil. The analysis of the statements pointed to gender, in its intersectional dynamics, as the major axis of difference in the practice. Motherhood is highlighted ashaving a major impact on female professionals. Our study identified that the duty of care persists in impacting women's decision-making, (re) defining the balance between personal and family life and (de) limiting their career trajectories.