Quebra do silêncio em grupo on-line de enfrentamento ao abuso sexual infantil
Rompiendo el silencio en un grupo online que enfrenta abuso sexual infantil
Breaking the silence in a group on-line facing child sexual abuse
Psicol. Estud. (Online); 28 (), 2023
Publication year: 2023
RESUMO O presente artigo apresenta um recorte dos dados coletados em entrevistas durante pesquisa etnográfica on-line acerca da exposição das vivências de vítimas de violência sexual em grupo no Facebook intitulado 'Luta contra o abuso sexual infantil'. Entendemos que os relatos funcionam como uma possibilidade de quebra do pacto de silêncio e se constituem como o início da elaboração do trauma psíquico. As interações no grupo foram registradas em diário de campo durante o período de quatro meses de acompanhamento e os dados aprofundados em dez entrevistas semiestruturadas com participantes contactadas por meio de convite postado no grupo. As entrevistas aconteceram por vídeochamada e perguntavam sobre o sentido que elas produzem ao utilizar o grupo, refletindo sobre a possibilidade de ultrapassar a condição de vítimas. Verifica-se que o uso da plataforma surge como uma possibilidade de fazer algo que ajude outras vítimas, seja por meio do compartilhamento de histórias ou do fornecimento de informações que auxiliem a romper com o ciclo abusivo. Observa-se que cada vítima lida de forma única com o evento traumático, enfrentando impactos psíquicos da agressão e do momento de revelação permeado pela dinâmica familiar e pela assimetria de poder. Desta forma, fica evidenciada a necessidade de uma escuta qualificada que viabilize a reconstrução subjetiva facilitada por um processo de elaboração do ocorrido.
RESUMEN. El presente artículo presenta una compilación de los datos recolectados durante la investigación etnográfica online realizada acerca de la exposición de las vivencias de víctimas de violencia sexual en el grupo de Facebook intitulado 'Lucha contra el abuso infantil'. Entendemos que los relatos funcionan como una posibilidad de romper el pacto de silencio y constituyen el inicio de la elaboración del trauma psíquico. Las interacciones en el grupo se registraron en un diario de campo durante el período de cuatro meses de seguimiento y los datos se profundizaron en diez entrevistas semiestructuradas con participantes contactados a través de una invitación publicada en el grupo. Las entrevistas se realizaron mediante videollamada y se preguntaron sobre el sentido que producen al utilizar el grupo, reflexionando sobre la posibilidad de superar la condición de víctimas. Verifícase que el uso de la plataforma surge como una posibilidad para hacer algo que ayude a otras víctimas, sea por medio de compartir historias o a través del suministro de informaciones que auxilien a romper el ciclo abusivo. Obsérvase que cada víctima lida de forma única con el evento traumático, enfrentando impactos psíquicos de agresión y del momento de revelación permeado por la dinámica familiar y por la asimetría de poder. De esta manera, se evidencia la necesidad de una escucha cualificada que posibilite una reconstrucción subjetiva facilitada por un proceso de elaboración de lo ocurrido.
ABSTRACT This article presents an excerpt of the data collected in interviews during online ethnographic research about the disclosure of the experiences of victims of sexual violence in a Facebook group entitled 'Fight against child sexual abuse'. This study considered the research's understanding that the reports function as a possible way of breaking the pact of silence and become the basis for the beginning of the psychic trauma elaboration. Interactions in the group were recorded in a field diary during the four-month follow-up period. The data were further analyzed in ten semi-structured interviews with participants contacted through an invitation posted in the group. The interviews were conducted by video call and asked about the meaning they produce when using the group, reflecting on the possibility of overcoming the condition of victims. The use of the platform emerges as a possibility to do something that helps other victims, either by sharing stories or providing information that helps break the abusive cycle. It is observed that each victim deals uniquely with the traumatic event, facing the psychic impacts of the aggression and the moment of disclosure permeated by the family dynamics and power asymmetry. Thus, the need for qualified listening is evident, which enables a subjective reconstruction facilitated by elaborating on what happened.