Mulheres Comem, Mães Cozinham: uma aproximação da construção da maternidade e das práticas culinárias domésticas na Amazônia Ocidental Brasileira
Women eat, Mothers cook: motherhood and cooking practices in Western Brazilian Amazon
Saúde Soc; 31 (3), 2022
Publication year: 2022
Resumo Este artigo objetiva descrever e discutir as maneiras como a maternidade é praticada e representada nas práticas culinárias domésticas das mulheres na Amazônia ocidental brasileira. Desenvolvemos um estudo qualitativo descritivo, conduzimos entrevistas em profundidade com 16 mulheres que eram mães e que cozinhavam em domicÃlio. Os dados foram analisados identificando as unidades de significância regulares, expressivas e significativas coletadas por meio das entrevistas. Essas mulheres, quando não tinham filhos, realizavam práticas culinárias atendendo suas demandas pessoais e horários do trabalho extradomiciliar. A partir da gestação, porém mais marcadamente após o parto, as mulheres modificam suas práticas culinárias se apropriando das ideias hegemônicas pré-construÃdas do que é ser uma mãe, desenvolvendo atividades culinárias mais rotineiras, não discricionárias, focadas no cuidado dos membros da famÃlia e com maior investimento de tempo e esforço. Estas mudanças reforçam a concepção de que a relação mãe e criança deve estar orientada para uma maternidade intensiva.
Abstract This paper describes and discusses how motherhood is practiced and represented in women's domestic cooking practices in Western Brazilian Amazon. A descriptive and qualitative study was conducted with 16 women cooks using in-depth interviews. Data were analyzed by identifying the regular, expressive and significant units of significance. These women, when childless, cooked to meet their individual needs and out-of-home work schedules. During pregnancy, but specially after birth, women modify their cooking practices, appropriating the preconceived hegemonic ideas on what it means to be a mother, focused on homemaking and greater investment of time and effort. Such changes reinforce the belief that mother-child relations should involve intensive motherhood.