A reforma psiquiátrica em relatos de cuidadores de residências terapêuticas
Psychiatry reform in reports of therapeutic residence care providers

Saúde Soc; 31 (3), 2022
Publication year: 2022

Resumo A Reforma Psiquiátrica brasileira criou uma série de dispositivos para substituir o sistema asilar, entre eles o Serviço Residencial Terapêutico (SRT). Com o objetivo de ampliar as reflexões sobre os desafios enfrentados pela proposta reformista, este estudo analisa os discursos construídos pelos cuidadores das residências terapêuticas de Campina Grande (PB), visando detectar estratégias argumentativas favoráveis ou contrárias à Reforma, identificar as identidades que constroem para si próprios, para os demais profissionais da rede de saúde mental e para os usuários do serviço, além de analisar como nomeiam e descrevem o sofrimento psíquico. A pesquisa, de cunho qualitativo, baseou-se na perspectiva teórico-metodológica da psicologia social discursiva. Obtiveram-se 18 depoimentos orais que foram submetidos à análise de discurso. Apesar dos cuidadores se posicionarem a favor da reforma psiquiátrica, apresentam relatos que reforçam a necessidade dos hospitais psiquiátricos, sobretudo, nos momentos de crise dos usuários. Ademais, os profissionais dos hospitais são posicionados, em alguns relatos, como mais capacitados do que os da rede substitutiva. Esses relatos ainda associam o sofrimento psíquico à doença, à periculosidade e à alienação, e caracterizam os usuários como agressivos, perigosos e instáveis. De modo geral, os entrevistados justificam algumas práticas hospitalocêntricas, valorizam o saber médico e reproduzem discursos asilares.
Abstract The Brazilian Psychiatry Reform has created a number of alternatives to substitute the asylum internment system, among them, the Therapeutic Residential Service (SRT). Aiming at deepening the reflections over the challenges the reformist proposal faces, this study analyzes the discourses constructed by care providers of therapeutic residences in Campina Grande (state of Paraíba), to identify argumentative strategies either in favor or against the Reform, identify the identities they build for themselves and for other mental health network professionals and for the service users, in addition to analyzing how they name and describe psychic suffering. The research has a qualitative character, based on the theoretical-methodological perspective of discursive social psychology. A total of 18 oral reports were obtained and submitted to discourse analysis. Although the care providers revealed their approval of the psychiatric reform, their reports stress the need for psychiatric hospitals, mainly for those users undergoing crises. Besides, hospital professionals are seen, in some of those reports, as more capable than those in the substitutive network. Moreover, these reports associate psychiatric suffering to disease, to dangerousness, and to alienation and characterize the users as aggressive, dangerous, and unstable. On the whole, those interviewed justify some practices typical of hospitals, value medical knowledge and reproduce asylum discourses.

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