Incels e Misoginia On-line em Tempos de Cultura Digital
Incels and On-Line Misogyny in Times of Digital Culture
Incels y Misoginia Online em Tiempos de Cultura Digital

Estud. pesqui. psicol. (Impr.); 22 (3), 2022
Publication year: 2022

Este estudo teórico tem como objetivo problematizar como os discursos misóginos e antifeministas são produzidos e disseminados contemporaneamente no mundo digital. O conceito de masculinidade hegemônica é trazido à baila para problematizar as formações discursivas que se materializam através de ideias importadas de sites estrangeiros em plataformas digitais brasileiras. Destacamos o discurso misógino corrente em fóruns alinhados à nova Direita (alt-right), que tem se abrigado sob o termo guarda-chuva manosphere ("esfera masculina"), um conjunto de páginas on-line e redes sociais conectadas entre si por seu teor "ultramasculino". Identificamos um artifício alegórico - a RedPill (pílula vermelha), adotado na manosphere para nomear o processo pelo qual os homens/usuários finalmente tomam consciência da "realidade" da "ditadura feminista" que subjuga a masculinidade heterossexual. Com apoio do marco teórico dos estudos de gênero e estudos culturais propomos compreender esse fenômeno a partir da análise de mensagens de texto e posts extraídos do universo digital que buscam delimitar o "homem-de-verdade" em detrimento das masculinidades submissas (beta, como são chamadas as não dominantes). Conclui-se que no cenário digital os fluxos discursivos misóginos encontram um terreno fértil para proliferarem, engendrando práticas discursivas que convergem para o reforço da dominação masculina.
The aim of this theoretical study is to problematize how misogynistic and anti-feminist discourses are produced and disseminated in the contemporary digital world. The concept of hegemonic masculinity is brought up to problematize the discursive formations that materialize through ideas imported from foreign sites in Brazilian digital platforms. We highlight the current misogynistic discourse in forums aligned to the new right (alt-right), which has taken shelter under the umbrella term manosphere ("male sphere"), a set of online pages and social networks connected by their "ultramasculine" content. We identify an allegorical device - the Red Pill, adopted in the manosphere to name the process by which men/users finally become aware of the "reality" of the "feminist dictatorship" that subjugates heterosexual masculinity. Supported by the theoretical framework of gender studies and cultural studies we propose to understand this phenomenon out of the analysis of text messages and posts extracted from the digital universe that seek to delimit the "truly man" to the detriment of submissive masculinities (beta, as the non-dominant ones are called). We conclude that misogynistic discursive flows find a fertile ground to proliferate in the digital world, engendering discursive practices that converge to reinforce male domination.
Este estudio teórico tiene como objetivo problematizar cómo se producen y difunden los discursos misóginos y antifeministas en el mundo digital contemporáneo. El concepto de masculinidad hegemónica es planteado para problematizar las formaciones discursivas que se materializan a través de ideas importadas de sitios extranjeros en las plataformas digitales brasileñas. Destacamos el actual discurso misógino en foros alineados con la nueva derecha (alt-right), que se ha cobijado bajo el término paraguas de la manosfera ("esfera masculina"), un conjunto de páginas y redes sociales online conectadas por su contenido "ultramasculino". Identificamos un dispositivo alegórico - la Pastilla Roja, adoptada en la manosfera para nombrar el proceso por el cual los hombres/usuarios finalmente toman conciencia de la "realidad" de la "dictadura feminista" que subyuga a la masculinidad heterosexual. Con apoyo de los estudios de género y los estudios culturales nos proponemos entender este fenómeno a partir del análisis de mensajes de texto y posts extraídos del universo digital que buscan delimitar al "hombre de verdad" en detrimento de las masculinidades sumisas (beta, como se denomina a las no dominantes). Se concluye que los flujos discursivos misóginos encuentran un terreno fértil para proliferar, engendrando prácticas discursivas que convergen en el fortalecimiento de la dominación masculina.

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