Nosso sistema imune de cada dia e os agrotóxicos de hoje
Our everyday immune system and today's pesticides
Arq. Asma, Alerg. Imunol; 6 (4), 2022
Publication year: 2022
O uso massivo dos agrotóxicos nas lavouras deu-se a partir de 1950 com a “Revolução Verde”, como resultado da busca por aumento da produtividade e modernização dos campos agrícolas. Diante disso, na década de 1960, foi criado o Programa Nacional de Defensivos Agrícolas (PNDA), que veio para facilitar a introdução dos agroquímicos, colaborando para que, a partir de 2008, o Brasil passasse a ser o país com maiores percentuais de uso destes produtos. Essas substâncias geram efeitos deletérios sobre a resposta imune dos indivíduos expostos, principalmente relacionada aos macrófagos, células B, T e NK. Isso afeta a capacidade de fagocitose, apresentação de antígenos e produção de anticorpos, além de induzir a geração de radicais livres de oxigênio e disfunção mitocondrial, resultando em estresse oxidativo e danos ao DNA celular, apoptose em excesso, mutação no ciclo celular, desordem de regulação e, consequentemente, imunodeficiência. Dessa forma, o desenvolvimento de doenças imunomediadas, como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), está estreitamente ligado aos agrotóxicos, uma vez que esses variados mecanismos de toxicidade ao sistema imune induzem, dentre outras, manifestações respiratórias, tais como tosse, sibilo, irritação e inflamação. Além disso, estes pesticidas estão relacionados com doenças não imunomediadas ao alterar a função normal dos hormônios da tireoide, andrógenos e estrógenos. A fim de avaliar estes impactos, o presente estudo consiste em uma revisão integrativa da literatura e, diante da crescente utilização descontrolada dos agrotóxicos, assume grande relevância, refletindo a necessidade de maior atuação da vigilância epidemiológica, ambiental e da saúde do trabalhador.
Beginning in the 1950s, massive pesticide use began in what is called the “Green Revolution”, a quest for increased agricultural productivity and modernization. In the 1960s, the Brazilian National Program of Agricultural Defense was created to facilitate the introduction of agrochemicals, leading the country to become one of the world’s largest pesticide users by 2008. These substances have deleterious effects on the immune response of exposed individuals, mainly related to macrophages and B, T, and NK cells. This affects phagocytosis and antigen and antibody production, inducing production of oxygen free radicals and mitochondrial dysfunction, which results in oxidative stress and cellular DNA damage, excess apoptosis, cell cycle mutations, regulatory disorders, and, consequently, immunodeficiency. Thus, the development of immune-mediated diseases, such as asthma and chronic obstructive pulmonary disease (COPD), is closely linked to pesticides, since these varied mechanisms of toxicity to the immune system induce respiratory manifestations, such as cough, wheezing, irritation and inflammation. Pesticide use is also related to non-immune-mediated diseases because exposure alters the normal function of thyroid hormones, androgens, and estrogens. To evaluate their impact, the present study performed an integrative review of the literature, which, due to the growing and uncontrolled use of pesticides, is of great relevance and demonstrates the need for greater epidemiological, environmental, and worker health surveillance.