A relação entre a desnutrição e as doenças infecciosas tem sido descrita há algum tempo. A gentamicina é um antibiótico aminoglicosídeo muito utilizado no tratamento de infecções graves por gram-negativos, apesar de sua nefrotoxidade. Estudos experimentais e clínicos também mostraram alterações importantes na função renal durante a desnutrição. Assim sendo, o objetivo do presente estudo foi verificar se o uso da gentamicina (G) em ratos submetidos à restrição alimentar (R) pode interferir no desenvolvimento da nefrotoxidade à gentamicina. Ratos Wistar machos com dois meses de idade foram submetidos à restrição alimentar (50 porcento) durante 30 dias. Nos 10 últimos dias, eles foram tratados com soro fisiológico ou gentamicina (40mg/kg/dia intraperitoneal).

Os grupos estudados foram:

C)- ratos com alimentação ad libitum + soro fisiológico, G)- alimentação ad libitum + gentamicina, R)- restrição alimentar + soro fisiológico, RG)- restrição alimentar + gentamicina. Uma queda significativa na taxa de filtração glomerular (TFG) foi observada nos grupos R (5,69 ± 0,22) e G (5,31 ± 0,27) se comparados ao grupo C (7,17 ± 0,42 ml.min kg). No grupo RG, a diminuição a TFG foi mais evidente do que nos grupos G ou R, (4,42 ± 0,24 ml.min-1.kg-1). Em todos os grupos experimentais, a diminuição da TFG ocorreu paralelamente à diminuição do fluxo plasmático renal (FPR), de modo que a fração de filtração (FF porcento) foi mantida. Um declínio na proporção inulina urina/plasma foi observado em ambos os grupos tratados com gentamicina e também no grupo com restrição alimentar. Apesar de G e R "per se" causarem um aumento na excreção de Na elevado a +, os valores mais altos foram obtidos no grupo RG. Apesar do nosso estudo ter sido realizado num modelo experimental, se extrapolado a protocolos humanos pode-se sugerir que o uso de antibióticos aminoglicosídeos nos pacientes desnutridos deve ser feito com cautela, especialmente devido a função renal e considerando o risco aumentado potencial exibido por estes pacientes.