Hahnemann: retrospectivo e prospectivo. É uma atualidade possível?
Retrospective and prospective. Is this a possible update?
Rev. homeopatia (São Paulo); 84 (2), 2023
Publication year: 2023
Ater-se ao objeto médico para atender a demanda de uma clínica mais
eficiente, a saber, com a finalidade específica de curar ou controlar patologias
definidas é um antigo problema da medicina. Aqui tentamos
apontar as mudanças que Hahnemann propôs, incluindo, mas para
além do uso do princípio dos semelhantes e das doses infinitesimais.
Em sua ética, o radical compromisso com o outro não significa estar
somente atento às modificações de caráter patológico como primazia da
atenção médica. A originalidade aqui foi ter pretendido definir-se por
um humanismo ético, cujos principais atributos devem ser a solidariedade
e a compreensão do sujeito que sofre. Sofrimentos manifestos através
das moléstias agudas e crônicas, idiossincrasias imaginárias ou reais
que o sujeito enfermo narra ao médico, buscando alívio e suporte. A
ajuda homeopática não vem (ou não poderia vir) só de encontro aos
corpos enfermos, ela virá sempre como um atendimento das sensações,
metáforas e alusões que invadem e assolam o sujeito.Ao mesmo tempo
é preciso que os praticantes abandonem valorizem e preservem as muitas
contribuições que resistiram ao tempo, mas ao mesmo tempo evitem
o culto à personalidade – aspecto que até aqui tem sido refratário às
críticas. Para preservar o legado de Hahnemann é preciso conservar a
atitude crítica sem render-se aos grandes modismos e efemérides metodológicas
que trazem mais danos do que benefícios. Como antecipou
Constantine Hering, a homeopatia não pode perder seu eixo empírico,
sob o risco de ser no futuro compreendida e reduzida a uma caricatura
na história da medicina. Por isso é importante que se mantenha como
um sistema científico aberto e obedeça às premissas do experimental
enquanto mantém o foco em um programa de pesquisas tanto consistente
como abrangente.
Sticking to the medical object to meet the demand for a more efficient
clinic, namely, with the specific purpose of curing or controlling defined
pathologies, is an old problem in medicine. Here we try to point out the
changes that Hahnemann proposed, including, but beyond the use of
the principle of similars and infinitesimal doses. In his ethics, the radical
commitment to others does not mean only being attentive to changes of
a pathological nature as the priority of medical care. The originality here
was to have intended to be defined by an ethical humanism, whose
main attributes must be solidarity and understanding of the subject who
suffers. Suffering manifested through acute and chronic illnesses, imaginary
or real idiosyncrasies that the sick subject narrates to the doctor,
seeking relief and support. Homeopathic help does not come (or could
not come) only against sick bodies, it will always come as a response to
the sensations, metaphors and allusions that invade and plague the subject.
At the same time, it is necessary for practitioners to abandon, value
and preserve the many contributions that have stood the test of time,
but at the same time avoid the cult of personality – an aspect that has so
far been refractory to criticism. To preserve Hahnemann’s legacy, it is
necessary to maintain a critical attitude without surrendering to great
fads and methodological ephemerides that bring more harm than good.
As Constantine Hering anticipated, homeopathy cannot lose its empirical
axis, at the risk of being misunderstood in the future and reduced to
a caricature in the history of medicine. Therefore, it is important that it
remains an open scientific system and obeys experimental premises
while maintaining focus on a consistent and comprehensive research