Agora (Rio J.); 26 (), 2023
Publication year: 2023
RESUMO:
Levantamos neste trabalho uma questão preliminar à perspectiva ética de uma possível clínica psicanalítica com povos indígenas. Esta questão é tratada em dois planos; através de um reposicionamento dos psicanalistas frente à dimensão hegemônica da branquitude colonial e, por outro, circunscrita a partir das noções da temporalidade em psicanálise; seja por meio da atemporalidade do inconsciente freudiano, seja pelo manejo inédito do tempo lógico introduzido por Lacan. Avançamos perguntando sobre o estatuto do inconsciente experienciado pelo compartilhamento coletivo dos sonhos por diferentes etnias indígenas e, em paralelo, por meio da leitura do extermínio e apagamento da língua, da cultura e dos sujeitos indígenas, autênticos donos dessas terras, em uma interpretação da história colonial do país através da repetição presente no famoso slogan: "Brasil; o país do futuro". O que a assertiva de Ailton Krenak - "o futuro é ancestral" - nos ensina em relação à ideia de retomada como possibilidade de um futuro para o Brasil?
ABSTRACT:
In this work, we raised a preliminary question regarding the ethical perspective of a possible psychoanalytic clinic with indigenous peoples. This issue is addressed on two levels through a repositioning of psychoanalysts toward the hegemonic dimension of colonial whiteness and, on the other, circumscribed by the notions of temporality in psychoanalysis, whether through the timelessness of the Freudian unconscious or through the unprecedented management of logical time introduced by Lacan. We advance by asking about the status of the unconscious experienced by the collective sharing of dreams by different indigenous ethnicities and, in parallel, through the reading of the extermination and erasure of language, culture, and indigenous subjects, authentic owners of these lands, in an interpretation of the colonial history of the country through the repetition present in the famous slogan: "Brazil; the country of the future". What does Ailton Krenak's statement - "the future is ancestral" - teach us about the idea of recovery as a possibility of a future for Brazil?