Dengue: perguntas frequentes e orientações para ginecologistas e obstetras
Dengue: frequently asked questions and guidelines for gynecologists and obstetricians
Femina; 52 (2), 2024
Publication year: 2024
A dengue é uma das arboviroses mais comuns em todo o mundo, com alta prevalência nas Américas, especialmente no Brasil.(1-3) Ela é causada por um grupo de vírus de RNA de cadeia simples, sentido positivo, pertencentes à família Flaviviridae, gênero Flavivirus. (2) Existem quatro sorotipos distintos do vírus da dengue (DENV) – DENV 1, 2, 3 e 4 –, que compartilham cerca de 65%-70% de semelhança na sequência de nucleotídeos.(4) Ao estudar esses quatro sorotipos, observa-se estreita relação entre DENV1 e DENV3, com homologia de até 78,4% entre eles. Por outro lado, o DENV4 demonstra relação mais distante com os outros três sorotipos.(5) A infecção por DENV normalmente confere imunidade vitalícia à reinfecção com o mesmo sorotipo.(6) Entretanto, a infecção secundária com sorotipos heterólogos ou cepas virulentas aumenta o risco de doença grave.(7) A transmissão da dengue ocorre predominantemente por meio da picada da fêmea do mosquito Aedes spp., sendo o Aedes aegypti e o Aedes albopictus os principais vetores de transmissão em áreas tropicais e subtropicais.(8,9) A transmissão do DENV apresenta variação sazonal, com picos de transmissão da doença no Brasil entre outubro de um ano e maio do ano seguinte.(3) Segundo o Centro de Controle de Doenças (CDC) americano, quase metade da população mundial vive em áreas com risco de dengue. A cada ano, cerca de 400 milhões de pessoas são infectadas pelo DENV. Aproximadamente 100 milhões de indivíduos adoecem e 40 mil morrem por doença grave.(1) A incidência da infecção também pode variar de ano para ano, com aumento da transmissão do DENV em intervalos de três a quatro anos. Nas Américas e no Brasil, em 2017 e 2018, ocorreu redução de mais de 50% dos casos de dengue, após a transmissão epidêmica do vírus da Zika. Entretanto, após 2019, houve aumento do número de casos registrados. Segundo o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (MS), em 2023, foram notificados 1.658.816 casos prováveis de dengue no Brasil, concentrados principalmente na região Sudeste (56,41%), seguida pelas regiões Sul (23,8%) e Centro-Oeste (11,5%). Nesse mesmo ano, foram registradas 1.094 mortes, sendo esse o maior número de mortes dos últimos 20 anos. Os óbitos concentraram-se também no Sudeste, especialmente nos estados de São Paulo (286 mortes) e Minas Gerais (197 mortes).(10) Segundo dados do MS, o Brasil deverá registrar 1.960.460 casos de dengue em 2024, podendo esse número alcançar até 4.225.885 casos. Nas quatro primeiras semanas do ano, o país já contabilizou 217.841 casos prováveis da doença.(11) Este artigo se propõe a revisar alguns conceitos sobre a dengue, com foco no diagnóstico, tratamento e prevenção da doença, bem como em suas especificidades na gestação.