De paciente a causo: uma etnografia com egressos de internação psiquiátrica
From patient to clinical case: an ethnography with psychiatric inpatient care releases

Ciênc. Saúde Colet. (Impr.); 20 (2), 2015
Publication year: 2015

Considerando as contribuições das ciências sociais para a compreensão da assistência psiquiátrica, que destaca a passagem de pessoa a paciente como crucial na carreira moral do doente mental, visamos investigar outro destes momentos que alimentam o debate acadêmico sobre doença e identidade social: de paciente a “causo”. Com base em uma perspectiva socioantropológica sobre a vida de egressos de internação psiquiátrica, um trabalho de campo foi conduzido de 2007 a 2010, junto a usuários de uma rede de atenção, seus familiares e vizinhos, destacando não só as categorias administrativas para designá-los entre os profissionais da rede, como também as utilizadas pelos habitantes da cidade. Notamos em que medida alguns habitantes são considerados “doidos”, mesmo sem terem sido “pacientes” da casa de repouso local; ora “usuários”, por terem sido matriculados em estabelecimentos da rede; ora “clientes”, por sua frequência no mesmo; “bonequeiros”, “nervosos” e “barulhentos”, por seu comportamento em público, alguns deles sendo objeto de comentário nas ruas da cidade e virando “causos”, e outros sendo objeto de discussão nos estabelecimentos de saúde e tornando-se “casos clínicos”. Portar transtornos mentais é tão relevante no manejo da identidade social estigmatizada quanto portar sobrenomes e apelidos.
Social Science contributions to the understanding of psychiatric care have highlighted the passage from person to patient as being crucial to the moral career of the mentally ill. In this article another moment relevant to a discussion on illness and social identity is investigated, namely the passage from patient to clinical case. Socio-anthropological fieldwork was conducted between 2007 and 2010 with users of a care network after release from psychological internment, their relatives and neighbors. It highlighted not only the administrative categories that professionals in the network used to designate patients, but also those given by other villagers. Some villagers are considered doidos (“loonies”) without having been admitted as “patients” to the local inpatient facility. Others are “users”, registered at an outpatient service; or “clients”, when they are frequent users. Some are called bonequeiros (“troublemakers”), “nervous”, or barulhentos (“noisy crackpots”) because of their behavior in public. Finally, by becoming the object of comments by people on the street, they also become “cases,” which are eventually discussed at the mental care facilities, thus becoming “clinical cases.” Mental disorders are as relevant to the management of a stigmatized social identity as surnames and nicknames.

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