Orientação de higiene bucal e experiência de cárie em pacientes com paralisia cerebral em uso de medicamentos
Oral hygiene orientation and caries experience for cerebral palsy patients using oral medication

Acta fisiátrica; 21 (4), 2014
Publication year: 2014

A presença de prejuízos associados à paralisia cerebral (PC) requer muitas vezes o uso de medicamentos de uso contínuo e por longos períodos de tempo. Dentre os efeitos colaterais adversos destes medicamentos destacam-se a diminuição do fluxo salivar e aumento do risco para doença cárie.

Objetivo:

Verificar se os responsáveis pelos pacientes com PC receberam orientações quanto à realização da higiene bucal após a administração dos medicamentos de uso contínuo via oral e a experiência de cárie nos pacientes com PC.

Método:

Participaram deste estudo transversal, 205 crianças com diagnóstico médico de PC, de ambos os gêneros, com idades entre 0 a 12 anos (6,6 ± 2,9) que frequentavam um programa de prevenção em Odontologia numa instituição de referência em reabilitação em São Paulo-SP. Os dados relativos ao gênero, desordem do movimento e padrão clínico da PC foram coletados dos prontuários. Sob a forma de entrevista, os responsáveis relatavam se a criança fazia uso ou não de algum medicamento de uso contínuo, e, em caso afirmativo, qual a forma de apresentação dos mesmos; se os responsáveis haviam recebido orientação prévia sobre a importância da realização higiene bucal após a utilização dos medicamentos, quem realizava a higiene bucal da criança, e com que frequência esta era realizada. A experiência de cárie foi registrada segundo o índice de dentes cariados (C, c) perdidos (P, e) ou obturados (O, o) por dente (D, d) (CPOD). Foram constituídos dois grupos segundo o uso (grupo 1: G1) ou não (grupo 2: G2) de medicamentos sob a forma contínua. Foram usados os testes do Qui-quadrado e teste t de Student. Fixou-se o nível de significância em 5%.

Resultados:

Os grupos G1 (n = 110) e o G2 (n = 95) eram homogêneos quanto ao gênero (p = 0,343) e a idade (p = 0,514). Entretanto diferiram significantemente em relação ao padrão clínico, apresentando G1 porcentagens significantemente maiores de pacientes com tetraparesia (p < 0,001). Analisando apenas o G1, observou-se que os subgrupos em uso de medicamentos sob a forma solução oral (solução; n = 65) ou em uso de comprimidos (comprimido; n = 45) diferiram significantemente quanto à orientação prévia para a realização da higiene bucal (p = 0,013), apresentando o grupo solução maior porcentagem dos responsáveis orientados. Com relação à realização da higiene oral, o subgrupo solução apresentou porcentagens significantemente maiores (p = 0,044) de crianças que requeriam supervisão e realização da higiene bucal dos responsáveis quando comparado ao grupo comprimido. A comparação da experiência de cárie entre os grupos G1 e G2 mostrou que o G1 apresentou valores significantemente maiores para o valor do índice CPOD (p = 0,048), e menor número de pacientes livres de cárie (p = 0,016) quando comparado a G2.

Conclusão:

Embora os responsáveis pelos pacientes que recebiam medicamento sob a forma de solução oral sob a forma contínua fossem os mais orientados quanto à realização da higiene bucal após a administração dos medicamentos, estes pacientes apresentavam maior experiência de cárie.
The presence of damage associated with cerebral palsy (CP) often requires the long-term continuous use of prescription drugs. Among the adverse side effects of these drugs are decreased salivary flow and increased risk for caries.

Objective:

To determine whether those responsible for CP patients received orientation regarding the necessity of oral hygiene after the administration of drugs of continuous oral use and the caries experience in patients with CP.

Method:

Participating in this study were 205 children with medical diagnosis of CP, of both genders, aged 0-12 years (6.6 ± 2.9) attending a preventive program in dentistry in a reference institution of rehabilitation in São Paulo-SP. The data regarding gender, movement disorder and clinical types of CP were collected from medical records. In an interview format, the caregivers reported whether there was use of any continuous medicine. They were asked what form it took, whether the caregivers had received prior guidance on the importance of oral hygiene after the use of medicines, who performed the oral child's hygiene, and how often it was done. Their caries experience was recorded based on whether a given tooth was decayed (D, d) missing (M, m) or filled (F, f) (DMFT). The sample was divided into two groups according to whether they used continuous drugs (group 1: G1) or did not (group 2: G2). The Chi-square test and Student's t test were used, with the level of significance set up at 5%.

Results:

G1 (n = 110) and G2 (n = 95) were similar in terms of gender (p = 0.343) and age (p = 0.514). However, they differed significantly in relation to the clinical pattern, with G1 presenting significantly higher percentages of patients with tetraparesis (p < 0.001). Considering only the G1, it was observed that the subgroup that used medicine in oral solution form (solution, n = 65) differed significantly from that using tablets (tablets, n = 45) in relation to their previous orientation for hygiene oral (p = 0.013), in that the solution subgroup had been better oriented. With regard to oral hygiene, the solution subgroup had significantly higher percentages (p = 0.044) of children requiring supervision and completion of the oral hygiene when compared to the tablet group. The comparison of caries experience between G1 and G2 showed that the G1 had significantly higher values for their DMF index (p = 0.048), and fewer caries-free patients (p = 0.016) when compared to G2.

Conclusion:

Although those responsible for the patients receiving medication in the form of oral solution were better oriented, these patients presented higher values of caries experience.

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