Episiotomia seletiva: avanços baseados em evidências
Selective episiotomy: advances based on evidence
Femina; 38 (5), 2010
Publication year: 2010
A realização de episiotomia de forma rotineira foi, durante muitos anos, um grande exemplo de prática médica adotada sem base em estudos clínicos bem conduzidos. Permanece como o segundo procedimento mais comum em obstetrícia, tendo como objetivos prevenir severos danos perineais nas mulheres submetidas ao parto normal, assim como reduzir o período expulsivo. Contudo, vários ensaios clínicos randomizados bem controlados foram publicados contestando essas verdades, além de fornecer evidências de nível I. Assim, foi realizada uma revisão da literatura de forma sistematizada, a qual incluiu estudos comparando a realização da episiotomia rotineira à seletiva. Observou-se que a realização da episiotomia rotineira não protege o assoalho pélvico, sendo causa de maior dor, sangramento e complicações intra e pós-operatórias. Baseando-se nesses resultados, não há justificativa para a manutenção da realização de episiotomia de forma rotineira. Porém, sua frequência continua sendo elevada no Brasil. Sua realização seletiva representa uma excelente oportunidade para testar a força da educação médica continuada, cientificamente embasada, e para mudar dogmas do passado. A difusão dessa prática e sua adoção nos manuais de conduta nos diferentes serviços e diretrizes das sociedades médicas é um marcador de qualidade da atenção e humanização do parto.
To perform the episiotomy as a routine way was, for many years, a medical procedure used without base in any reliable clinical trials. It remains as the second most performed procedure in obstetrics, having as goal to prevent severe damage in the perineal muscle during natural childbirth and to reduce the delivery length. However, several well-controlled randomized clinical trials has been released to refute those beliefs in addition to provide level I evidence. Therefore, a systematic literature review was made including studies that compare the routine episiotomy to the selective episiotomy. The results showed that routine episiotomy does not protect the pelvic floor causing more pain, bleeding and surgical and post-surgical complications. Based in those results, there is no reason for the use of routine episiotomy. However, its use is still common in Brazil. The selective episiotomy use is an excellent form to analyze the continuous medical education based in scientific facts and change ancients beliefs. The propagation of this practice and its presence in routine manuals are indicative of attention quality and delivery humanization.