Entre saúde e aprimoramento: a engenharia do corpo por meio de cirurgias plásticas e terapias hormonais no Brasil
Medical borderlands: engineering the body with plastic surgery and hormonal therapies in Brazil

Hist. ciênc. saúde-Manguinhos; 23 (1), 2016
Publication year: 2016

Resumo Este estudo explora as margens da medicina, em que práticas de saúde e aprimoramento se confundem. Ele é baseado no trabalho de campo desenvolvido no contexto de dois projetos de pesquisa distintos no Brasil sobre cirurgia plástica e terapias de hormônio sexual. Há uma significativa sobreposição clínica dessas duas terapias. Ambas estão disponíveis nos sistemas de saúde público e privado de tal forma que revelam a dinâmica de classes subjacente à medicina brasileira. Essas terapias também têm uma dimensão experimental enraizada no contexto normativo do Brasil e nas expectativas da sociedade em relação à medicina como forma de controlar a saúde reprodutiva e sexual da mulher. O uso medicinal experimental desses tratamentos está associado a um uso experimental “social”: as mulheres os adotam em resposta a pressões, ansiedades e aspirações no âmbito profissional e na vida pessoal. Argumenta-se aqui que essas técnicas experimentais estão se tornando moralmente autorizadas como um controle rotineiro da saúde da mulher, integradas aos tratamentos predominantes de obstetrícia e ginecologia, e sutilmente confundidas com práticas de cuidados pessoais que são vistas no Brasil como essenciais para atingir uma forma de feminilidade moderna.
Abstract This paper explores medical borderlands where health and enhancement practices are entangled. It draws on fieldwork carried out in the context of two distinct research projects in Brazil on plastic surgery and sex hormone therapies. These two therapies have significant clinical overlap. Both are made available in private and public healthcare in ways that reveal the class dynamics underlying Brazilian medicine. They also have an important experimental dimension rooted in Brazil’s regulatory context and societal expectations placed on medicine as a means for managing women’s reproductive and sexual health. Off-label and experimental medical use of these treatments is linked to experimental social use: how women adopt them to respond to the pressures, anxieties and aspirations of work and intimate life. The paper argues that these experimental techniques are becoming morally authorized as routine management of women’s health, integrated into mainstream Ob-Gyn healthcare, and subtly blurred with practices of cuidar-se (self-care) seen in Brazil as essential for modern femininity.

More related